Caros,
Algumas coisas dirigiram minha atenção para Clemenceau, O Tigre, apesar de não compartilhar de muitas de suas ideias, gestos e ações: suas frases.
Encheu-se de glória levando a França à vitória na Grande Guerra: foi cognominado o Pai da Vitória, com justiça, mas sua visão do mundo lhe trouxe muitas amarguras durante toda a vida.
Obviamente, o custo da vitória não o impressionava; valia apenas a vitória. Morreram cerca de 1.400.000 soldados franceses, mas a França venceu. Um general provavelmente não aceitaria tantas mortes em suas fileiras, razão pela qual Clemenceau achava que eles não deviam ser responsáveis pela condução da guerra:
“A Guerra é uma coisa muito séria para ser confiada aos militares”.
Terminada a Guerra, pensou em se candidatar à Presidência da República, mas não conseguiu, e saiu-se com essa:
“A vida me mostrou que há duas coisas que o homem pode passar sem: a presidência da república e a próstata”.
Suas frases cortantes são cheias de humour, como que para compensar o lado amargo de sua vida – e da vida de todos.
Georges Clemenceau: Algumas coisas dirigiram minha atenção para Clemenceau, O Tigre, apesar de não compartilhar de muitas de suas ideias, gestos e ações. É que vale a pena determo-nos em suas frases cortantes, na aspereza de muitos episódios de sua vida, e como conduziu a França à vitória na Primeira Guerra Mundial, sendo, por isso, chamado de Le Père de la Victoire.
E às vezes vale a pena uma digressão para desviarmos o olhar dos enormes males e maldades de nossos tempos e constatar que, se antes não era muito diferente, às vezes tinha mais humour.
O apelido Le Tigre adveio da ferocidade com que combatia os adversários – as pessoas e as teses. No auge da glória, ao fim da Grande Guerra, Clemenceau, extremamente popular, resolveu não se candidatar a presidente da République Française… Foi aí que veio a primeira frase que me chamou a atenção:
“A vida me mostrou que há duas coisas que o homem pode passar sem: a presidência da república e a próstata”.
“La vie m’a appris qu’il y a deux choses dont on peut très bien se passer : la présidence de la République et la prostate.”
Quem era esse cara? Só um chato que sabia fazer frases de efeito? E de um humor meio amargo? Não.
Grandes combates: Clemenceau lutou muito, em causas difíceis, e foi se enchendo de certa decepção com a vida, mas nunca desistiu. Na verdade, seu viés político adveio de seu pai que, como o filho, foi preso várias vezes. A França era uma certa democracia, e a pessoa podia geralmente se expressar sem, por isso, arriscar demasiado a vida: podia ser preso, mas não guilhotinado.
Desencantado, porém, com um caso amoroso, foi para a Inglaterra e depois para os Estados Unidos. Lá, deu aulas de equitação e de francês numa escola de moças. Aprendeu inglês, e parece haver apreciado autores da língua de Shakespeare. Mas…
Mas… nas amarguras da vida, fez uma frase espetacularmente cortante sobre a língua inglesa:
“O inglês não passa de um francês mal pronunciado”.
« L’anglais, ce n’est jamais que du français mal prononcé ».
Certamente, Clemenceau falou isso pensando em Guilherme, o Conquistador, digo, Guillaume le Conquérant, aquele duque da Normandia que conquistou a Inglaterra a partir de 1066. Desde essa época e nos próximos 400 anos, a aristocracia inglesa falava francês; o inglês ficava, digamos, para a plebe. E ainda hoje o lema do brasão da realeza anglaise é – Dieu et mon droit, assim mesmo, em francês.
Por isso, Clemenceau ainda disse:
“O que é a Inglaterra? Uma colônia francesa que deu errado”.
“Qu’est-ce que l’Angleterre ? Une colonie française qui a mal tourné!”
Tragédia no casamento: Clemenceau se apaixonou perdidamente por uma sua aluna, Mary Plummer (1848-1922), na escola de Connecticut onde ensinava. Pede sua mão, mas a menina hesita e ele volta para a França. Depois, por instigação de amigas de Plummer, ele a pede em casamento de novo e é aceito. Mas casam-se só no civil, em 1869, apesar de a noiva e sua família serem bastante religiosos. Clemenceau era ferozmente contra a Igreja, e contra todas as igrejas, apesar de sua família ser protestante.
Clemenceau e Mary (abaixo, pintada por Ferdinand Roybet) voltaram para a França e tiveram 3 filhos. O casal se separou em 1876. Porém, um belo dia em 1891, e depois de muitas infidelidades de Clemenceau, ele descobre que sua esposa também obtivera um amante: o tutor de seus filhos.
Ele anula o casamento, consegue retirar a cidadania francesa dela, obtém a guarda dos filhos, e manda Mary de volta para os Estados Unidos num vapor, com um bilhete… de terceira classe.
Queimou, na frente dos filhos todas as lembranças da esposa, inclusive retratos, para que não mantivessem dela nenhuma memória palpável.
Mary Plummer de volta a Paris: Mary voltou a Paris depois da Grande Guerra e se tornou… guia turístico. Que coisa. A esposa de Georges Clemenceau, guia turístico.
Quando ela faleceu, em 1922, nem Clemenceau nem nenhum dos filhos foi ao seu enterro.
A política e o ardor ideológico consumira todo o coração de Clemenceau. Não sobrou nada para a misericórdia.