Caros,
Vamos terminar essa nossa incursão às frases e pequenos episódios da vida de Clemenceau mencionando o Caso Dreyfus, que tanto emocionou o mundo, inclusive o Brasil.
É famosa a carta de Émile Zola na primeira página do jornal L’Aurore. Dreyfus, um oficial do exército francês, fora falsamente acusado de espionar para os alemães e condenado. O culpado era outro, mas Dreyfus já estava preso na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa. Eis que duas pessoas entram no caso e mudam a história da França.
Zola escreveu sua diatribe como uma Lettre ouverte au président de la République française, Félix Faure. O redator chefe do L’Aurore achou que o título era muito longo, dispersivo da ideia principal, não muita gente leria, e mudou para – J’Accuse. Todo mundo leu e mudou o curso da história. O Redator-chefe era… Georges Clemenceau.
Ainda levou uns anos, mas a condenação de Dreyfus foi anulada.
A diferença entre Clemenceau e Zola é que este era escritor, preocupado com a estética e consistência do texto, e aquele era político, focado na eficiência e impacto da mensagem.
O Caso Dreyfus: É famosíssima a carta de Émile Zola lá, na primeira página do jornal L’Aurore. Dreyfus, um oficial judeu, fora falsamente acusado de espionar para os alemães naquele período de revanche entre a Guerra Franco-prussiana e a Grande Guerra. O culpado era outra pessoa e havia testemunha para isso.
Mas Alfred Dreyfus, nessa grande onda de antissemitismo, fora condenado assim mesmo, e já estava preso na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa. Zola escreveu sua carta como uma Carta Aberta ao Presidente da República francesa, Félix Faure. O redator chefe do L’Aurore refez o título para – J’Accuse e mudou a história. O Redator-chefe era… Georges Clemenceau.
Obviamente, um título como Lettre ouverte au président de la République jamais teria o impacto de J’Accuse. Levou ainda anos, mas a condenação de Dreyfus foi anulada.
A diferença entre Clemenceau e Zola é que este era escritor, mais preocupado com a estética e consistência do texto, e aquele era político, focado na eficiência e impacto da mensagem.
Os Politécnicos: A École Polytechnique foi fundada em 1794 pelo grande matemático Gaspar Monge. Napoleão a transformou em Escola Militar em 1804, e segue assim até hoje; La Polytechnique continua sendo a grande escola francesa de engenharia. Foi a ênfase em matemática que a tornou carinhosamente conhecida como l’X – o X.
Clemenceau não gostava dos militares nem da empáfia dos polytechniciens:
“Os politécnicos sabem tudo, mas nada mais”.
“Les polytechniciens savent tout, mais rien d’autre.”
E, sempre irônico com relação ao mundo militar:
“Basta acrescentar “militar” a uma palavra para lhe fazer perder o significado. Assim, a justiça militar não é justiça; a música militar não é música”.
“Il suffit d’ajouter “militaire” à un mot pour lui faire perdre sa signification. Ainsi la justice militaire n’est pas la justice, la musique militaire n’est pas la musique.”
Ad persona: Grandes vultos, de bom ou mau caráter, nem sempre são elogiadas no plano pessoal. Assim, Clemenceau foi:
Le Tigre – pela ferocidade com que defendia suas causas e atacava os adversários.
Le Tombeur de ministères – porque derrubou muitos ministérios.
Le Premier Flic de France – O primeiro Policial da França. Como Ministro do Interior, foi o terror dos bandidos.
Le Briseur de grèves – Estando no Governo, nada de bagunça…
Le Père la Victoire – Ganhou a Grande Guerra para a França. O Kaiser Guilherme II lamentou: me faltou um Clemenceau.
Le Perd-la-Victoire – Trocadilho: a pronúncia é muito semelhante a Le Père de la Victoire. Mas Clemenceau é acusado de haver perdido a vitória (ou a Paz) por causa do Tratado de Versailles.
Em Les Conséquences Politiques de la Paix, obra publicada já em 1920 por Jacques Bainville, o Tratado de Versalhes de 1919 é denunciado nestes famosos termos: “Uma paz muito branda para o que nela há de duro, e dura demais para o que ela tem de brando. »
Le Père-la-Violette – Se refere a um buquê de violetas que recebeu de soldados quando visitava o Front, colhidas ao lado das trincheiras. Ficou tão emocionado que disse que seria enterrado com elas, mesmo secas e murchas.
A Morte: Georges Clemenceau faleceu numa crise de uremia, aos 88 anos, em 24 de novembro de 1929, em sua residência, no número 8 da rua Benjamin-Franklin, hoje Musée Clemenceau.
Ele alugava aquele imóvel há 34 anos, que fora (que coisa) uma mera garçonnière do amigo, o dandy Robert de Montesquiou.
Ainda em 1926 todo o prédio fora posto à venda pelos herdeiros da proprietária, a qual não aumentava o valor do aluguel de Clemenceau por saber dos parcos recursos do Tigre.
Felizmente, um admirador do Pai da Vitória, o milionário canadense James Douglas Jr. (1867-1949), adquiriu o imóvel e o deixou morando lá até a morte.
Georges Clemenceau no escritório de sua casa (1928).
O que fica: Vendo a máscara mortuária do Tigre, lembrei de uma singela lápide, a do Eminentíssimo Cardeal Antonio Barberini, irmão o Papa Urbano VIII, na igreja dos Capuchinhos, em Roma, que dizia apenas HIC IACET PULVIS, CINIS, ET NIHIL – Aqui jaz Pó, Cinzas, e Nada. Não tem nem o nome do cardeal


Sic Transit Gloria Mundi.