Caros,
Vamos iniciar uma série de Notas sobre dois gênios e seus inventos extraordinários. Eles contribuíram profundamente para o desenvolvimento da humanidade. E, como quase tudo na vida, alguns efeitos colaterais foram duros.
O século XIX foi o século da explosão. Explosão que mudou os rumos da humanidade. E no âmago dessa explosão estava o Nitrogênio, na forma de Nitratos.
O mesmo nitrato se compõe para matar e para dar vida.
Com Alfred Nobel, o nitrato, pela dinamite, facilitou enormemente o trabalho nas minas, a escavação de túneis, mas matou milhões em guerras e acidentes.
Com Fritz Haber, o nitrato salvou bilhões de pessoas da fome, pelos fertilizantes. Talvez esta tenha sido a maior descoberta de toda a história, mas quem se lembra de Haber? Bem, Haber concebeu outra invenção que manchou sua reputação: o gás venenoso, usado na Grande Guerra…
A explosão do nitrato: O século XIX foi o século da explosão. Explosão que mudou os rumos da humanidade. E no âmago dessa explosão estava o Nitrogênio, na forma de Nitratos.
O mesmo nitrato se compõe para matar e para dar vida. Com Alfred Nobel, o nitrato matou milhões de pessoas, pela dinamite. Com Fritz Haber, o nitrato salvou bilhões de vidas, pelos fertilizantes.
Nobel (1833 – 96) percebeu, no final da vida, que poderia ficar para a posteridade como “o mercador da morte”, e criou o Prêmio Nobel, inclusive o da Paz, deixando quase toda sua fortuna para esse fim.
Haber (1868 – 1934), talvez o inventor de maior impacto na história da humanidade, salvou a Alemanha de uma derrota, por falta de explosivos e de alimentos. Haber inventou um método de produzir amônia a partir do Nitrogênio da atmosfera – uma coisa estupenda. Da amônia se fabricam explosivos e fertilizantes. Mas Haber criou também o gás venenoso como arma de guerra, o que maculou sua imagem. E ele não estabeleceu um Prêmio Haber. Bilhões de seres humanos não morreram de fome, salvos pelos fertilizantes que Haber conseguiu obter de forma abundante. – do vento, literalmente. O mesmo nitrato de Haber alimentou os alemães – e depois o mundo – e também permitiu a fabricação dos explosivos necessários aos esforços de guerra. Por causa de Haber, não faltou nem comida nem bombas para os súditos do Kaiser.
A infelicidade dos inventores: Nobel não foi muito feliz na vida. Consumido pelo amor à química dos explosivos, deixou a percepção de que tinha poucos relacionamentos, e quase nenhuma amizade. Nunca se casou. Não teve filhos, apesar de três amantes. Muitos morreram em explosões no manejo da experimentação, fabricação e transporte da dinamite, inclusive seu irmão mais novo. Tirante a mãe e talvez o pai, não parece ter se enchido de amores por familiares. Não deixou nada para a família, como herança de sua imensa fortuna: a quase totalidade de seus bens foram destinados a um fundo para o Prêmio Nobel.
Fritz Haber amava profundamente a Alemanha. Casou e teve um filho. Sua esposa, Clara Immerwahr, era química também, mas sentiu profundamente quando o marido desenvolveu o gás venenoso que foi empregado, sem aviso prévio, no meio da Grande Guerra. Haber, em pessoa, foi dispor os cilindros com o gás na Frente Ocidental, na Batalha de Ypres. Quando Haber se preparou para fazer a mesma coisa na Frente russa, sua esposa se suicidou. Mas ele foi, do mesmo jeito; ele achava que era um dever para com a Alemanha.
A Morte pelo Gás: Haber dizia: “Morte é morte, qualquer que seja a maneira com que é infligida”. Não é.
A Bélgica foi um grande cemitério da Primeira Guerra Mundial. Particularmente, as Batalhas de Ypres foram muito mortíferas.
Os alemães transportaram gás cloro líquido para o front em grandes tubos de metal. Com o vento soprando sobre as linhas francesas e canadenses em 22 de abril de 1915, os alemães (Haber no controle da operação) liberaram o gás, que esfriou e flutuou sobre o campo de batalha em uma nuvem verde-amarelada letal. O gás asfixiava, e as pessoas ficavam como que “morrendo afogadas no seco”, mas, enquanto algumas tropas fugiam em pânico, os canadenses se mantiveram firmes. Após vários dias de luta caótica e brutal, a posição de Ypres permaneceu em mãos Aliadas. O gás não fez com que os alemães desalojassem os aliados. Houve 100.000 baixas. Durante toda a Grande Guerra, uns 90.000 soldados morreram com essa sensação de “afogados no seco”.
A morte de um irmão: Em 1888, faleceu Ludvig Nobel, riquíssimo magnata do petróleo na Rússia czarista, um irmão mais velho de Alfred. Um jornal de Paris, porém, noticiou o óbito erroneamente, como se o próprio Alfred Nobel tivesse morrido. O obituário não era nada edificante. Falava da invenção da dinamite, de como Alfred se tornou riquíssimo como comerciante de explosivos. Dizia que era um homem imoral, que lucrava com os conflitos e com a miséria humana, fornecendo a arma com a qual um homem podia matar muitos outros ou deixá-los mutilados.
A leitura desse obituário deixou Alfred Nobel chocado. E começou a pensar na vida e na imagem que deixaria como legado para a humanidade. Não se levavam em conta os benefícios de sua invenção, como a dinamite permitiu melhorar a vida dos mineiros, p. ex., possibilitando escavações numa fração do tempo anterior; como permitiu a abertura de túneis sem os quais a comunicação entre cidades era longa e penosa. Nada disso.
A morte sempre chega: Em julho de 1896, seu último irmão, Robert, morre na Suécia. Alfred, o de saúde mais frágil entre os irmãos, sobrevivera a todos eles. Mas por pouco tempo. Seu cardiologista já lhe mandara deixar seus papéis em ordem… Sua mãe, Karolina, morrera em 1889.
Nobel era um homem solitário. Quando sua mãe ainda era viva, Alfred a visitava na Suécia todo ano. Mas ninguém da família vivia com ele. Não tinha descendentes. Sua companhia era um criado, a quem pagava salário. Que vida, não? Tanto sucesso, tantos negócios, tantas descobertas e essa situação pessoal. Um dia escrevera: “Não conto com nenhuma memória agradável para me alegrar; nenhuma ilusão de futuro para me confortar; e nada para satisfazer minha própria vaidade. Não tenho família que me ajude a adoçar a vida, nem amigos para dar minha afeição, nem inimigos contra quem usar de maldade”.
Na época de Nobel, o mundo seguia se afastando de seu bem mais essencial, a família, e promovendo um bem secundário, o indivíduo. Sua solidão foi um efeito colateral disso.