Notas & Comentários – 07-07-2023

Clique para continuar a leituraLer novamente a Apresentação desta Nota

A morte de um irmão: Como já dissemos, em 1888, faleceu Ludvig Nobel, um riquíssimo irmão mais velho de Alfred. Um jornal de Paris, pensando que se tratava do próprio Alfred Nobel, fez um obituário nada edificante. Falava da invenção da dinamite, de como Alfred se tornou rico como comerciante de explosivos. Dizia que era um homem imoral, que lucrava com os conflitos e com a miséria humana, fornecendo a arma com a qual um homem podia matar muitos outros ou deixá-los mutilados.

Alfred Nobel ficou chocado.

Mas havia a Condessa Bertha Kinsky.

Nobel contrata uma secretária: Sim, um dia, uma condessa austríaca surgiu na vida de Alfred Nobel. Uma condessa diferente. Chamava-se Bertha Kinsky. Provavelmente, foi ela quem ajudou a mudar a cabeça de Nobel e o futuro de sua imagem. Como assim?

Em 1876, Nobel publicou anúncio num jornal de Viena. O anúncio era um pouco estranho: “um velho, rico, e muito educado gentil-homem em Paris procura secretária de idade madura e conhecedora de várias línguas”. Quem respondeu foi Bertha Kinsky, uma aristocrata de 33 anos, em dificuldade financeira, e com precedentes complexos. Bertha havia sido empregada como tutora de quatro moças de uma rica família, mas quando ela e o irmão mais velho das moças, Barão Arthur von Suttner se apaixonaram, a família não permitiu que noivassem. Assim, sem melhores opções, anúncio do velho e rico gentleman em Paris (muito rico, mas não tão velho, pois Nobel tinha apenas 43 anos) atraiu Bertha. Entretanto, pouco tempo depois, quando Nobel estava na Suécia, Bertha foi a Viena e… se casou secretamente com aquele que deveria ter sido seu noivo; e fugiram para o Cáucaso, ela já como Bertha Sophie Felicitas von Suttner. Após 9 anos de pobreza, tentando ganhar a vida como escritores, voltaram para a Áustria, em 1885, e se reconciliaram com a família dele. Alfred, no entanto, não a abandonou: corresponderam-se ainda por uma década, até que Bertha publicou um livro, e a relação com Alfred tomou novo rumo.

As ideias de Bertha e o Prêmio: Nobel ficou impressionado com um livro de Bertha Suttner, née Kinsky, em que ela fazia uma defesa apaixonada pelo desarmamento dos países e pela paz. O livro era Die Waffen nieder! (Abaixo as Armas!), teve 37 edições e foi traduzido em 12 línguas. As ideias de Bertha pareciam com as de Nobel, que escreveu a ela, congratulando-a pelo livro. Certamente, esse episódio da vida de Alfred contribuiu para que criasse o Prêmio Nobel, especialmente o da Paz.

Bertha von Suttner morreu em 21 de junho de 1914, aos 71 anos, poupada da enorme tristeza de ver a eclosão da Grande Guerra, tão antitética às teses de desarmamento e paz que defendia.

Nobel – o gesto que redime? Alfred Nobel morreu aos 63 anos, em 10 de dezembro de 1896, em San Remo, Itália, para onde se mudara, quando a França o processou por alta traição (por haver vendido material bélico para a Itália, que era parte de uma aliança contrária à França) e ele teve de, literalmente, fugir do país. Quando abriram seu testamento, surpresa. Digo, choque. Deixava a quase totalidade (94%) de sua fortuna para a entrega de 5 prêmios anuais: Química, Física, Literatura, Medicina e… Paz. Matemática não foi incluída por Nobel, que a considerava muito teórica, sem claro benefício prático. O Prêmio Nobel de Economia veio muito mais tarde, quando, em 1968, o Banco Central da Suécia fez uma cotação para isso, em comemoração de seu 300º aniversário.

Naquele início de premiações, a grande dificuldade era escolher a quem premiar em Química, tal era a abundância de grandes descobertas em estoque, nessa ciência. Na verdade, já se sabia mais ou menos todos os que receberiam, necessariamente, esse prêmio nos próximos anos; a única questão era em que ordem.

Bem, o Prêmio Nobel salvou a imagem de Alfred após sua morte.

O Prêmio Nobel de Haber: Fritz Haber estava em Estocolmo no dia 1º de junho de 1920, para receber o Prêmio Nobel de Química. O Prêmio lhe fora concedido em 1919, mas era relativo ao ano de 1918, vez que para 1919 a Academia sueca considerou que não havia ninguém digno do Prêmio.

O Rei da Suécia, porém, não entregou o Prêmio a Haber, como fizera com os quatro agraciados nas outras áreas (Física, Medicina, Literatura e Paz). Haber recebeu sozinho, meio ano depois. Havia um clamor, principalmente de cientistas ingleses, americanos e outros, pela questão do invento do gás venenoso usado na Grande Guerra.

Fritz Haber, o inventor que mais contribuiu para a sobrevivência da humanidade, por descobrir um método de sintetizar amônia a partir de matéria prima abundantíssima – o ar, a atmosfera, o vento! -, sem a qual seria impossível fertilizar a terra e obter alimentos para milhões de pessoas, como as coisas chegaram a esse ponto para
Fritz Haber?