Caros,
A batalha de Poitiers, travada em 19 de setembro de 1356, foi a segunda grande catástrofe para a França na Guerra dos Cem Anos. Quando a derrota se tornou iminente, muitos franceses começaram a fugir. Os ingleses perceberam a oportunidade: « Vamos pegar o Rei; ele, por sua dignidade, não fugirá”. E o Rei Jean II Le Bon não fugiu. Ouvia-se a tocante voz do filho do Rei, de 14 anos, Felipe gritando, a seu lado: — Pai, cuidado à direita! — Pai, atenção à esquerda!»
O Rei João II, o Bom, foi levado, prisioneiro, para a Inglaterra. Perdeu a batalha, mas não a honra. Porém, a França, o maior, o mais populoso e o mais rico país da Europa, não conseguiu juntar o valor exigido para o resgate – 2 ou 3 vezes seu orçamento anual. João, o Bom, pediu para deixarem ele ir à França para tentar. Os ingleses, que também ainda cultivavam o valor da palavra dada, deixaram. João, o Bom foi, não conseguiu e voltou a fazer-se prisioneiro em Londres, onde morreu em 1364.
Por comparação, já na Renascença, quando o sentimento da honra minguava rapidamente, quando o homem resolveu se achar um quase deus, o Rei Francisco I, de França, perdeu a Batalha de Pavia (1525) para os espanhóis, foi feito prisioneiro e levado para Madri. Fez um acordo com o Rei Carlos V da Espanha, que o libertou. Chegando na França, porém, Francisco I não cumpriu o acordo…
E como a França se recuperou dessa série de derrotas catastróficas na Guerra dos Cem Anos? Como se levantou, após Crécy, Poitiers e Azincourt e venceu essa longa guerra? É que Deus está na história.
Assim, quem fez mesmo a diferença na Guerra dos Cem anos não foi o Arco Longo nem a Besta nem a Pólvora. Quem fez a diferença definitiva, que restaurou o ânimo francês abalado por tantas e tão colossais derrotas, num dos maiores épicos da humanidade, foi uma camponesa analfabeta de 16 anos: ela ouviu umas vozes, acreditou nelas e salvou a França: Santa Joana d’Arc. Em dois anos, ela transformou um século de derrotas: a França venceu a Guerra dos Cem Anos, e dela saiu maior do que entrou.
Mas isso é outra história.
Poitiers – entre Crécy e Azincourt: A chevauchée (incursão ou raid, para fins de devastação e pilhagem) de Eduardo, o Príncipe Negro, em 1356, resultou numa imensa vitória para a Inglaterra – a Batalha de Poitiers. Uma vitória mais dramática e ainda maior que a de seu pai, o Rei Eduardo III, em Crécy, em 1346.
Em Poitiers, o exército francês ainda dependia quase que exclusivamente de sua cavalaria pesada e não tinha arqueiros em suas fileiras ou os que tinha estavam mal integrados a uma estratégia militar efetiva.
Aparentemente, a França só incluiu os arqueiros depois de Azincourt, apesar de iluminuras mostrarem o exército francês com arqueiros antes disso.
Em Crécy, Felipe VI, Rei de França, constatando a derrota iminente, deixa o campo de batalha. Em Poitiers, entretanto, João, o Bom, filho daquele mesmo Felipe VI, não foge. E isso aumentou a dimensão da tragédia francesa.
Poitiers: A Batalha de Poitiers, em 19 de setembro de 1356, foi a segunda grande catástrofe para a França na Guerra dos Cem Anos.
Os ingleses, percebendo a grande oportunidade que surgiu, com os franceses fugindo do campo de batalha, diziam: « Vamos pegar o Rei; ele, por sua dignidade, não fugirá”. E não fugiu.
Jean II Le Bon, Rei de França, cercado de seus fiéis, desceu do cavalo, pegou sua arma e se preparou para a luta. Ouvia-se a voz de Felipe Le Hardi, de 14 anos, filho do Rei, conforme guardado na memória da crônica: — Pai, cuidado à direita! — Pai, atenção à esquerda!» O Rei João, o Bom, foi levado, prisioneiro, para a Inglaterra. Eduardo III, exigiu um resgate exorbitante por ele.
João o Bom – era mesmo: Ele pode ter sido o último rei a cultivar a honra de forma extraordinária. Não fugiu da Batalha, quando seus comandados fugiram. Foi feito prisioneiro. A França não conseguiu juntar o valor exigido para o resgate – 2 ou 3 vezes o orçamento anual do país. João, o Bom, pediu para o deixarem ir à França para tentar. Os ingleses, que também ainda cultivavam o valor da palavra dada, deixaram.
João II, o Bom foi, então, para seu país, não conseguiu juntar o valor do resgate, e voltou a seguir prisioneiro em Londres, onde morreu em 1364. Seu corpo voltou para a França e foi enterrado na Abadia de Saint Denis, o Panteão dos Reis de França.
Por comparação, já na Renascença, quando o sentimento da honra minguava rapidamente, quando o homem resolveu se achar um quase deus, o Rei Francisco I, de França, perdeu a Batalha de Pavia para os espanhóis (1525), foi feito prisioneiro e levado para Madri. Fez um acordo com o Rei Carlos V da Espanha, que o libertou, deixando dois de seus filhos como refém. Chegando na França, porém, Francisco I não cumpriu o acordo…
Santa Joana d’Arc: E como a França se recuperou dessas série de derrotas catastróficas na Guerra dos Cem Anos? Como se levantou, após Crécy, Poitiers e Azincourt? É que Deus está na história.
Assim, quem fez mesmo a diferença na Guerra dos Cem anos não foi o Arco Longo nem a Besta nem o Canhão. A diferença definitiva, diferença que restaurou o ânimo francês abalado por tantas derrotas tão colossais, foi uma arma poderosíssima, num dos maiores épicos da humanidade: uma camponesa analfabeta, de 16 anos, ouviu umas vozes, acreditou nelas e salvou a França: Santa Joana d’Arc. Humilde, mas firme na obediência a Deus; pobre, mas rica das coisas de Deus; menina, mas cheia de uma sabedoria que só podia vir de Deus. É esse tipo de gente, como Santa Joana d’Arc, gente improvável, inconspícua, que Deus preferiu usar ao longo dos séculos para seus feitos mais espetaculares.
Santa Joana d’Arc, com 17 anos, reconheceu o Delfim da França (que se disfarçara em meio a uma multidão de nobres e cortesãos), levantou o cerco de Orléans (assediada pelos ingleses), levou Carlos VII para ser sagrado Rei em Reims (apesar do medo dele). Mas isso é outra história.
A besta: A besta (com “é” aberto) tinha força suficiente para atravessar a maioria das armaduras da época, como cotas de alha e algumas armaduras leves, a uma boa distância.
Como assim? A besta (também chamada de balestra) era capaz de disparar um dardo (chamado quadrelo) com violência tal que podia perfurar o escudo e a armadura de um cavaleiro. Ou seja, um infante, um soldado a pé conseguia matar um cavaleiro à distância, sem engajar combate leal? Sim. A tecnologia iguala guerreiros.
É claro que a flecha de um arco comum, ou de um arco compósito (construído de madeira, osso ou chifre, e tendão de animal), matava à distância. O arco compósito foi uma das armas mais influentes de todos os tempos, tendo um impacto profundo na história da humanidade. Mas a besta tinha uma potência inaudita; Igualava, de certa forma, um soldado sem treino a um cavaleiro que passou a sua vida se preparando para o combate com seus iguais. Na verdade, o cavaleiro estava em desvantagem. O cavaleiro precisava de proximidade com o adversário, um contato mesmo, para combater eficazmente. O besteiro, não.
A besta da Idade Média: Na Idade Média, a besta era usada tanto como arma de caça quanto para a guerra. Desprezada pela cavalaria, era vista como uma arma injusta porque, matando à distância, não permitia que o adversário se defendesse. Não tinha a fairness do “em guarda”. Era o começo de uma longa trajetória de domínio da tecnologia sobre o soldado profissional, sobre o cavaleiro. Uma espécie de democracia da tecnologia.
A besta permite que soldados inexperientes matem à distância um cavaleiro revestido de armadura que dedicou sua existência à profissão de guerreiro. A Igreja considerava a besta uma arma imoral. Os cavaleiros franceses a consideravam a arma dos covardes e se recusavam a usá-la. Com essa arma traiçoeira, eles diziam, um covarde pode matar com segurança o homem mais corajoso. Apesar do progresso da artilharia, o uso da besta continuou. Foi somente durante o século XVI que a besta não seria mais usada, exceto para a caça.