Caros,
Na Europa cristã, a besta era anátema, por ser considerada muito letal, e seu uso permitir matar de longe um cavaleiro com armadura; seu uso foi banido em 1139 pelo Segundo Concílio de Latrão.
Entretanto, Ricardo Coração de Leão morreu de um ferimento infligido por um tiro de besta em 1199.
O maior problema da besta, porém, era a cadência de tiros. Demandava um intervalo muito grande entre os disparos: o besteiro tinha de colocar um novo quadrelo (seta) na haste, enrolar então a corda com uma manivela que se encontrava na parte anterior da arma, até ao ponto certo para o novo tiro, o que, além de requerer muita força física, demorava cerca de 2 a 5 min, tempo indisponível na guerra contra os excepcionais arqueiros ingleses. Estes conseguiam atirar facilmente, com o longbow, cerca de 5 flechas no curto espaço de 20 segundos. Ou seja, para cada tiro de besta o arqueiro inglês podia disparar entre 30 e 75 tiros de arco longo.
Eis senão quando surge a pólvora.
Existe uma expressão usada de forma desdenhosa que diz: “fulano quer reinventar a pólvora”. Como se reinventar a pólvora fosse uma inutilidade. Não é. A China inventou a pólvora e a usou para se divertir. Mas a Europa reinventou a pólvora e a usou para a guerra.
Por que a China não avançou no uso da pólvora? Porque não quis, porque não precisava. A China se bastava a ela mesma, não precisava sair por aí guerreando para conquistar terras outras. A China não empreendeu guerras de conquista; seu maior objetivo era o comércio, não a expansão territorial.
O grande problema da pólvora era que o tiro denunciava o lugar do atirador. O fumaceiro que se levantava após um tiro de canhão, p.ex., indicava o lugar do artilheiro… Levou séculos para mitigar esse problema.
Aí chegou a dinamite, história que já contamos.
Ricardo Coração de Leão e a besta: Durante as guerras do final a Idade Média, a França recorreu frequentemente a besteiros mercenários estrangeiros (principalmente italianos e, em particular, genoveses), cuja seta (quadrelo) podia perfurar armaduras até uma distância de 90 a 100 metros.
Uma das vítimas mais famosas de um tiro de besta foi o grande Rei Ricardo Coração de Leão, que morreu de um ferimento infligido por essa arma em 1199.
A besta apareceu em sua forma moderna na Itália em meados do século X. A Itália era criativa, apesar da pouca força militar, pela dispersão dos muito estados que a compunham: os italianos eram capazes de guerrear uns com os outros, mas tinham bem menos chances contra países já mais estabelecidos, ou estados bem mais populosos, como a França e a Espanha.
Valorização do Besteiro: Na Europa cristã, a besta era anátema, porque permitia ao besteiro matar um cavaleiro, à distância, esmo munido de armadura. Seu uso foi banido em 1139 pelo Segundo Concílio de Latrão. Em 1143, o Papa Inocêncio II ameaçou fulminar com excomunhão e anátema, os besteiros, seus fabricantes e aqueles que comercializavam a besta. Essa proibição, e resto válida apenas para as lutas entre cristãos, continuou a ser mal observada pelos príncipes do Ocidente. Nos séculos XII e XIII, pesar da proibição, os reis Ricardo Coração de Leão (Inglaterra) e
Felipe Augusto (França) criaram unidades específicas de besteiros, em treinados. A eficácia da besta tornava soldados de elite os besteiros: eram mais bem pagos nos exércitos ocidentais e, às vezes, até mais bem equipados do que alguns cavaleiros.
Besta – o problema da cadência de tiros: Na Guerra dos Cem Anos, como vimos, besteiros genoveses deram apoio à França contra a Inglaterra. Porém a besta não fez diferença, pela má estratégia dos franceses e por serem poucos os besteiros.
Entre os séculos XIV e XVI, as bestas tinham um alcance considerável, entre 230m e 250m metros, e pesavam entre 5 e 7 kg, enquanto o arco longo inglês (longbow) tinha um alcance entre 180 e 200 metros: vantagem para a besta, neste quesito. A besta, porém, requeria um intervalo muito grande entre os disparos: o esteiro tinha de colocar um novo quadrelo (seta) na haste, enrolar então a corda com uma manivela (a força física requerida era enorme), até ao ponto certo para o novo tiro, processos que demandavam cerca de 2 a 5 minutos, tempo indisponível na guerra contra os excepcionais arqueiros ingleses. Estes conseguiam atirar facilmente cerca de 5 flechas no curto espaço de 20 segundos. Ou seja, para cada tiro de besta, o arqueiro inglês podia disparar entre 30 e 75 tiros de arco longo.
Eis senão quando surge a pólvora.
A Pólvora e o pensamento chinês: Existe uma expressão usada de forma desdenhosa que diz: “fulano quer reinventar a pólvora”. Como se reinventar a pólvora fosse uma inutilidade, uma bobagem. Não é. Longe disso. A China inventou a pólvora e a usou para se divertir, com fogos de artifício. Mas a Europa reinventou a pólvora e usou para matar o inimigo, mudando a história das guerras.
Por que a China não avançou no uso da pólvora? Porque não quis, porque não precisava. A China se bastava a si mesma, não precisava sair por aí guerreando para conquistar terras outras. Em sua história, a China – coisa excepcional – não empreendeu guerras e conquista; seu maior objetivo era o comércio, não a expansão territorial. E assim tem sido até nossos tempos. A China (e o Japão) ó retomou a pólvora, então para fins bélicos, quando ameaçada por estrangeiros.
As viagens do grande almirante chinês Zheng He, entre 1405 e 1433 são bem ilustrativas (vide Rodney Stark em How the West Won, ISI Books, 2014). O almirante, com algumas centenas de embarcações, algumas das quais bem maiores do que as que existiam no Ocidente, singrou o oceano Índico e chegou no leste da África. O objetivo, parece, era levar animais e coisas exóticas para corte Imperial chinesa, o que ele conseguiu. Zheng He fez 7 viagens, tendo falecido na última. Aí a China mudou de ideia. Talvez tenha achado perigoso expor coisas exóticas mesmo que nteressantes: para quê? Um decreto imperial proibiu a construção e navios capazes de navegar nos oceanos; a frota de Zheng He foi esmantelada, as madeiras nobres retiradas e o resto deixado a podrecer; mesmo os planos de construção dos navios foram estruídos. Os animais exóticos que Zheng He trouxera, foram ortos, inclusive as girafas, coitadas.
Também é esta a linha do que pensa David Goldman em seu impagável You Will Be Assimilated: China’s Plan to Sino-form the World, Bombardier Books, 2020.
A Pólvora: O monge e grande cientista inglês Roger Bacon, na verdade, o primeiro cientista da história (vide Brian Clegg, The First Scientist, a Life o Roger Bacon, Carroll & Graf Publishers, 2003), foi primeiro a descobrir a pólvora no Ocidente. Quando a mistura que reparara quase explodiu em sua cela, ele tentou esconder a fórmula.
A pólvora, posteriormente chamada de “pólvora negra”, é uma mistura granular de:
- um nitrato, tipicamente nitrato de potássio (KNO3), popularmente conhecido como salitre, e que fornece oxigênio para reação explosiva;
- carvão vegetal, que fornece carbono e outros combustíveis para a reação; e
- enxofre, que, embora também sirva como combustível, diminui a temperatura necessária para inflamar a mistura, aumentando assim a taxa de combustão.
O nitrato de potássio é o ingrediente mais importante em termos de volume e função, porque o processo de combustão libera o oxigênio o nitrato, promovendo a queima rápida dos outros ingredientes.
O grande problema da pólvora era que o tiro denunciava o lugar do tirador. O fumaceiro que se levantava após um tiro de canhão indicava a posição do artilheiro, e aí o inimigo mirava ali, na nuvem e fumaça… Levou séculos para se mitigar esse problema.
Aí chegou a dinamite, história que já contamos.