Notas & Comentários – 27-10-2023

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Paris e Sens: Notre-Dame de Paris é a Catedral da cidade mais importante da França; nela ocorreram muitos dos maiores eventos da história do país. Nela casaram-se reis, comemoraram-se vitórias, foram dadas graças pela paz.

Mas não foi sempre assim. Durante a Idade Média, Paris era uma Diocese sufragânea da Arquidiocese de Sens. E a razão era simples: segundo a tradição, São Saviniano foi mandado à Gália pelo próprio São Pedro e fundou o bispado de Sens. Pronto. O Bispado de Paris só foi desligado de Sens em 1622.

Vamos, nestas Notas, lembrar alguns eventos havidos em Notre-Dame de Paris que marcaram a história. Porque um monumento se distingue por sua beleza, pelo seu significado e pelos acontecimentos da história a que está associado.

De São Luís à Guerra dos Cem Anos: Em 1239, São Luís colocou, temporariamente, na Catedral de Notre-Dame a Coroa de Espinhos, a que doeu na cabeça de Nosso Senhor. Terminada a construção da Sainte-Chapelle, a Coroa de Espinhos foi para lá.

Em 1302, Felipe o Belo abriu na Catedral os primeiros Estados Gerais do Reino da França.

Em 1431, ocorreu em Notre-Dame a coroação, como rei da França, de Henrique VI da Inglaterra, então com dez anos de idade. Aproximava -se o final da Guerra dos Cem Anos. Esse Rei criança, entretanto, nunca foi reconhecido. Carlos VII, o pretendente francês, já havia sido sagrado Rei da França em 1429, em Reims, graças a Santa Joana d’Arc.

Em 1447, Carlos VII celebrou a retomada de Paris com um Te Deum (um belo e solene hino de ação de graças) em Notre-Dame, vencendo o partido inglês e borguinhão.

Em 1456, teve início, na Catedral, o processo para novo julgamento de Santa Joana d’Arc, que fora queimada como herege em Ruão, em 1431. O processo a reabilitou.

Das Guerras de Religião a Luís XIV: Em 24 de abril de 1558, Mary Stuart, Rainha da Escócia, casou-se, em Notre-Dame, com o Delfim e futuro Rei Francisco II da França.

Lá também, em 22 de junho de 1559, deu-se o casamento por procuração de Isabel da França com Filipe II, Rei da Espanha.

Em 1563, celebra-se em Notre-Dame o funeral solene de Francisco, 2º Duque de Guise, célebre militar e chefe do Partido Católico, após ser assassinado por um huguenote no cerco de Orléans. O Duque de Guise derrotou Carlos V em Metz, e retomou Calais dos ingleses. Sofreu vários atentados contra sua vida, e em 1545, no cerco de Boulogne, uma lança atravessou as duas faces de seu rosto, mas ele continuou lutando…

A 18 de agosto de 1572 (seis dias antes do chamado Massacre de São Bartolomeu), Marguerite de Valois (a rainha Margô) casou-se na Catedral de Notre-Dame com Henri que de Navarra (futuro
Henrique IV, Rei de França).

Em 22 de março de 1594, Henrique IV, convertido ao catolicismo pela última e definitiva vez, celebrou a sua entrada em Paris com um Te Deum em Notre-Dame, assinalando, por essa conversão, a reconquista da capital após cinco anos de luta contra os Católicos.

Em 1660, foi lá cantado um Te Deum pelo casamento de Luís XIV com a princesa espanhola Maria Teresa (o casamento propriamente se deu em Saint-Jean -de-Luz, próxima à fronteira com a Espanha).

Em 1668, o célebre militar Henri de La Tour d’Auvergne, visconde de Turenne, renunciou à sua fé protestante, na Catedral de Notre-Dame. Turenne teve a elevadíssima honra de ser sepultado na Basílica de Saint-Denis, o Panteão dos Reis de França.

Em 2 de março de 1687, Bossuet, o mais famoso orador sacro de todos os tempos, proferiu em Notre-Dame a oração fúnebre do Grande Condé, o qual, na Batalha de Rocroi, acabou com a invencibilidade de mais de um século e meio dos Tércios espanhóis. O Grande Condé, príncipe do Sangue, foi Príncipe de Condé, Duque de Bourbon, Duque de Enghien, Duque de Montmorency, Duque de Châteauroux, Duque de Bellegarde, Duque de Fronsac, Governador do Berry, Conde de Sancerr e, Conde de Charolais e Par de França.

Durante a Tormenta – Notre -Dame na Revolução francesa: Em 4 de maio de 1789, um Veni Creator foi entoado para celebrar, na Catedral, a abertura dos Estados Gerais. Luís XVI jamais imaginara que estava abrindo a caixa de maldades que acabariam levando à sua morte, e à paixão e martírio da Igreja de França.

Por decreto de 2 de novembro de 1789, que nacionalizou todos os bens da Igreja, a Catedral tornou-se propriedade do Estado.

No décadi, 20 Brumário do Ano II, i.e., em 10 de novembro de 1793, Notre-Dame foi transformada em templo da Razão. Quando os promotores da deusa Razão foram guilhotinados, a Catedral passou a templo do Ser Supremo. E assim ficou, até que Napoleão assinou a Concordata com o Papa, devolveu Notre-Dame à Igreja, e extingui u os cultos da Razão e do Ser Supremo.

Em 18 Floréal ano II (7 de maio de 1794), Robespierre, depois de ter guilhotinado os promotores do culto da razão, por ateísmo, conseguiu aprovar, por decreto, o reconhecimento da “imortalidade da alma e a existência de um Ser Supremo”. Como as festas instituídas pela Convenção Nacional são celebradas em praça pública, as igrejas tornaram-se inúteis… A catedral é transformada em uma espécie de mall com as capelas laterais servindo de lojinhas… Notre-Dame é utilizada como armazém para receber 1.500 barris de vinho destinados ao exército.

Após a fase do Grande Terror: Em 3 Ventôse, ano III (25 de fevereiro de 17 95), após a queda de Robespierre, um decreto restaurou a liberdade de culto e a separação entre igrejas e estado. Igrejas não sequestradas pelo estado poderiam ser reabertas.

No dia 24 de Termidor, Ano III (11 de agosto de 1795), as 23 chaves da catedral foram entregues a uma tal Sociedade Católica, composta por 66 pessoas que, obviamente, não eram reconhecidas pela Igreja. A primeira Missa, após a Tormenta, foi celebrada dias depois, na Festa da Assunção, 15 de agosto de 1795. A Igreja na França levaria décadas para se recuperar, mesmo parcialmente, do vandalismo e matança de padres e religiosos pela Revolução.