Notas & Comentários – 07-02-24

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Max Planck – a simplicidade da Fórmula: Ele era o pai da Física Quântica. Revolucionou a compreensão dos processos atômicos e subatômicos. Em um século de tantos físicos insignes, Max Planck talvez tenha sido o mais importante.

Sua equação é bela na simplicidade, quase como a arte cisterciense – o esplendor da austeridade. Nunca se vira uma equação tão graciosa e ao mesmo tempo tão grandiosa em seus três simbolozinhos, e de tão longo alcance na história da ciência. Não só a matéria não era contínua como, afirmava Planck, a energia só existia aos saltos – saltos quânticos. Que coisa: a matéria, segundo a Física Atômica, são buracos e a energia, segundo a Física Quântica, são saltos…

Corria o ano de 1900 quando Max Planck postulou que a energia sempre é um múltiplo de uma unidade elementar. Essa revolução é expressa assim:

𝐸=ℎ𝜈,

onde 𝐸 é a energia de um fóton, é a constante de Planck ( = 6,62607015 × 10-34 J.s) e 𝜈 é a frequência da radiação (1/s).

A relação entre energia e matéria de Einstein é de 1905, e também é bela, também é graciosa, também é grandiosa, e nela a luz aparece elevada ao quadrado:

E=mc²

A Energia (E) é igual à massa (m) vezes a velocidade da luz (c) elevada ao quadrado. Haja luz.

Assim, Planck determinou a energia de uma onda eletromagnética e Einstein a energia de uma partícula de matéria.

Esse era o ambiente da ciência nas universidades alemãs no comecinho do séc. XX: muitos gênios, gigantes da ciência, rompendo paradigmas com suas descobertas espetaculares. Mas…

 

Max Planck na Tormenta: Mas… aí chegou o nazismo, achando que a física era coisa de judeu, que não se devia ensinar a física judia de Einstein…

Max Planck reagiu. Do alto de sua autoridade e celebridade, foi direto ao Poder. Em maio de 1933, Planck foi recebido por Hitler, recém-nomeado Chanceler da Alemanha. Queria resolver a equação, digo, a questão. Planck argumentou que “a imigração forçada de judeus mataria a ciência alemã” e que “os judeus poderiam ser bons alemães”, ao que o Chanceler respondeu “mas não temos nada contra os judeus, apenas contra os comunistas.”

Aí é difícil. Contra o sofisma e a mentira a ciência – e o cientista – nada podem. Uma equação não mente, nem pode levar a uma mentira. O ± só na raiz quadrada. Planck não teve, portanto, sucesso, uma vez que aquela resposta “tirou dele todas as bases para negociações”: para Hitler “os Judeus são todos Comunistas, e estes são os meus inimigos.”

No ano seguinte, 1934, Fritz Haber, o químico de maior impacto na história da Alemanha e do mundo, de família judia, ainda que convertido ao protestantismo, Fritz Haber morreu no exílio, a caminho de um emprego no Mandato Britânico da Palestina.

 

Max Planck – um gesto: Em 1935, um ano depois da morte de Fritz Haber, Planck, que desde 1930 presidia a KWG (Kaiser- Wilhelm-Gesellschaft, Sociedade Kaiser Guilherme, que depois se tornou a Sociedade Max Planck), ousou organizar uma homenagem oficial para Haber, em que ele, Planck, e Otto Hahn discursaram (Hahn é o descobridor da fissão nuclear em 1938, junto com Lise Meitner e Fritz Strassmann, mas só ele ganha o Prêmio Nobel de Química de 1944).

Planck também conseguiu que, secretamente, vários cientistas judeus continuassem trabalhando ainda por vários anos em institutos da KWG. Em 1936, porém, seu mandato de presidente da KWG terminou e o governo nazista o pressionou a não tentar outro mandato.

À medida que o clima político na Alemanha se tornou gradualmente mais hostil, um proeminente expoente da Deutsche Physik (“Física Alemã”, também chamada de “Física Ariana”…) atacou Max Planck, Arnold Sommerfeld e Werner Heisenberg por continuarem a ensinar as teorias de Einstein, chamando-os de “judeus brancos”. O governo nazista, ora, vejam só, iniciou uma investigação sobre a ascendência de Planck, alegando que ele era “1/16 judeu” (ou seja, um bisavô – ou bisavó – seria judeu)… Planck negou.

 

Planck e tragédias na família: O tempo sempre avança e sempre cobra o preço de sua passagem sobre a natureza humana. A despeito disso, em 1940, Max Planck ainda estava suficientemente em forma para escalar picos de 3.000m de altura nos Alpes. Mas a conta do tempo vai chegando também na forma de tragédias.

Max Planck casou-se, em 1887, com Marie Merck, a qual faleceu em 1909, possivelmente de tuberculose. Tiveram 4 filhos: Karl, as gêmeas Emma e Grete, e Erwin. Durante a Primeira Guerra Mundial, Erwin, o filho mais novo, foi feito prisioneiro pelos franceses logo em 1914 (mas sobreviveu à Guerra), enquanto o filho mais velho, Karl, foi morto em combate na Batalha de Verdun. Sua filha Grete morreu em 1917 ao dar à luz seu primeiro filho. A outra filha de Planck, Emma, irmã gêmea de Grete, morreu da mesma forma dois anos depois, após se casar com o viúvo de Grete. Ambas as netas sobreviveram e receberam o nome de suas mães. Planck suportou estoicamente tão grandes perdas em tão curto espaço de tempo: sobreviveu à sua primeira esposa e a todos os filhos que teve com ela.

E foi em 1944 que Erwin, o filho mais novo, a quem Planck era muito apegado, foi preso pela Gestapo após a tentativa de assassinato de Hitler na chamada Conspiração de 20 de Julho. Julgado e condenado à morte, Erwin foi enforcado na prisão de Plötzensee, em Berlim, em janeiro de 1945. A morte de seu filho como que destruiu a vontade de viver de Planck.

Após a Segunda Guerra Mundial, Planck foi morar com parentes em Göttingen, a cidade daquela grande universidade. E foi lá que o Pai da Física Quântica morreu em 4 de outubro de1947.