Notas & Comentários – 15-03-2024

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O artigo de Ferguson foi um despertar d e Intelectuais. O famoso historiador Niall Ferguson publicou, em 11 de dezembro de 2023, o artigo: The Treason of the Intellectuals. Deu uma sacudida na Academia. (https://www.thefp.com/p/niall-ferguson-treason-intellectuals-third-reich).

Ferguson, um intelectual que vive no ambiente de universidades, e que publicou obras memoráveis de história e biografias, ficou profundamente chocado não apenas com o ataque terrorista de 7 de outubro, mas com o subsequente posicionamento das universidades americanas justificando ou apoiando o ataque, mesmo antes de qualquer reação israelense. Ou seja, os judeus foram barbaramente atacados e a culpa era… dos judeus.

O 7 de Outubro constituiu um ataque terrorista diferente, muito mais cruel do que qualquer outro na história recente, de um tipo de maldade inédita, atingindo crianças, mulheres, velhos, pessoas indefesas, não por um efeito colateral do ataque, mas diretamente, e propositadamente. Como se o alvo fosse causar o mais imenso e mais inaceitável escândalo, a mais invencível indignação.

O homem mais forte, aquele acostumado às maiores durezas da vida, desviaria os olhos para outro lugar, porque há limite para a visão do mal.

Ferguson achou que haveria um enorme e unânime clamor contra tanta maldade. Não. Ele se surpreendeu: o apoio ao ataque terrorista foi imensamente maior do que comiseração pelas vítimas. Mesmo antes da esperada brutal retaliação.

Vamos considerar o artigo e a visão propostos por Ferguson, com foco no posicionamento das universidades americanas e seu significado – diante das lições da história.

O viés dos anos 20: Em 1927, o filósofo francês Julien Benda publicou La trahison des clercs, traduzido como “The Treason of the Intellectuals” ou “A Traição dos Intelectuais”. Benda condenava o rebaixamento dos intelectuais europeus ao nacionalismo e ao racismo extremos que se avolumava perigosamente na Europa. Era a época de ascensão do Fascismo na Itália e do Nazismo na Alemanha.

Benda já conseguia perceber o papel nada edificante – pernicioso mesmo – que muitos acadêmicos europeus desempenhavam na política. Os intelectuais abriram o caminho, fornecendo argumentos, escrevendo monografias e teses para a organização do ódio a partir da própria academia.

E rapidamente esses ódios já estavam a passar do domínio da simples expressão ou das ideias para o domínio da violência – com resultados que seriam catastróficos para toda a Europa – e para toda a humanidade. Como assim? Numa Alemanha tão educada, numa Itália tão culta?

“Um século mais tarde”, observa Ferguson, “a academia americana seguiu na direção política oposta – para a esquerda, em vez de para a direita – mas acabou praticamente no mesmo lugar. A questão é se nós – ao contrário dos alemães – podemos fazer algo a respeito”. Que pergunta mais assustadora.

Aqueles que deveríamos ver como mais sábios, os mestres das universidades, os paladinos do bem-pensar, os promotores da razão – tornaram-se os intelectuais do ódio? As pesquisas mostram isso mesmo: a imensa maioria dos professores e alunos acham que ideia s diferentes das que defendem não deveriam ser aceitas nas universidades. E essa intolerância é o preâmbulo do ódio, que já irrompeu em muitas ocasiões no campus e fora dele.

Ferguson, atordoado, afirma que “Qualquer pessoa que tenha uma crença ingênua no poder do ensino superior para incutir moralidade não estudou a história das universidades alemãs no Terceiro Reich”.

“Também testemunhei”, prossegue Ferguson, “a vontade de administradores, doadores e antigos alunos em tolerar a politização das universidades americanas por uma coligação iliberal de progressistas “woke”, adeptos da “teoria racial crítica” e apologistas do extremismo islâmico”.

“Mas… Durante todo esse período, amigos me garantiram que eu estava exagerando”.

Ferguson se confessa atordoado pela traição de seus colegas intelectuais. Sim, durante esses últimos dez anos as pessoas reiteravam a Ferguson que ele estava exagerando.

“Quem poderia se opor”, obtemperavam, “a mais diversidade, mais equidade e mais inclusão no campus? De qualquer forma, as universidades americanas não foram sempre de tendência esquerdista? Seriam minhas preocupações (de Ferguson) apenas mais um sinal de que eu era o tipo de conservador que não tinha futuro real na academia?”

Tais ponderações desmoronaram depois de 7 de outubro.

October 7, 2023, como December 7, 1941, é ‘um dia que permanecerá coberto de ignomínia’, como disse Roosevelt sobre o ataque japonês a Pearl Harbor – A Date Which Will Live in Infamy. Só que foi muito pior. Pearl Harbor foi um ataque traiçoeiro e cruel de soldados contra soldados. A morte de civis era algo colateral. Em Sete de Outubro, terroristas deliberadamente atacaram velhos, mulheres e crianças, matando-as de forma crudelíssima, com torturas inomináveis, por opção. Nenhum argumento pode justificar isso.

“A reação de estudantes e professores ‘radicais’ às atrocidades do Hamas contra Israel revelou as realidades da vida universitária contemporânea”, conclui Ferguson. E arremata: “O posicionamento e justificativas dos dirigentes das universidades americanas foi tão triste e sombrio quanto os eventos em si”.

Sete de Outubro foi a efetivação de uma maldade inominável. A reação das universidades americanas é, à luz da história, a promessa de um mal imenso.