Caros,
Gustave Eiffel assinara um contrato para construir e explorar o que viria a ser sua Torre, desde que lhe fosse dada uma concessão de 20 anos. Esse prazo de concessão era necessário, pois a obra estava avaliada em 6,5 milhões de francos, mas Eiffel aceitou receber apenas 1,5 milhão para construir a Torre: estava certo de recuperar a diferença no prazo de uma concessão. Não se enganou: as pessoas até hoje fazem fila para subir na Torre.
Eis senão quando aparece na primeira página do diário Le Temps, o mais importante da época na França, o chamado manifesto dos intelectuais franceses, contra a construção da Torre… A arrogância era tão grande quanto o equívoco.
Na verdade era uma “Protestation des artistes contre la Tour de M. Eiffel“, que ainda não tinha o nome oficial de seu construtor. Alguns a chamavam de “a Torre dos 300m”, ou “a Torre de Monsieur Eiffel”, ou, mais depreciativamente, “a Torre de Babel”. Mas a babel, a confusão, quem não entendia nada eram os intelectuais. O manifesto, vejam só, contava com mais de 40 assinaturas, quase todas de homens célebres à época: escritores, poetas, músicos, pintores, escultores, arquitetos.
Cinco séculos antes, fazer a cúpula do Duomo de Florença, com aqueles dimensões colossais de diâmetro e de altura, parecia loucura. Ninguém jamais construíra algo assim, na história. Felizmente, na época de Brunelleschi não havia jornais para amplificar e propagar maledicência, como na de Eiffel havia. Hoje então, com as mídias sociais…
Ninguém acreditava que Brunelleschi conseguiria construir a cúpula da Catedral de Florença. Mas ele disse que era capaz de fazer. A cidade acreditou. E fez.
A Torre Eiffel e os intelectuais: Vamos recordar o caso da Torre Eiffel. Em 14 de fevereiro de 1887, o canteiro de obras da Torre se iniciava. Tinha de ficar pronta para a abertura da Exposição Universal de 1889, comemoração de 100 anos da Revolução francesa. Gustave Eiffel assinara um contrato para construir e explorar a Torre, desde que lhe fosse dada uma concessão de 20 anos. Esse prazo de concessão era necessário, pois a obra estava avaliada em 6,5 milhões de francos, mas Eiffel aceitou receber apenas 1,5 milhão para construir a Torre: estava certo de recuperar a diferença no prazo de uma concessão. Não se enganou: as pessoas até hoje fazem fila para subir na Torre.
Eis senão quando aparece na primeira página do diário Le Temps, o mais importante da época na França, o chamado manifesto dos artistas… Um intelectual se pronunciando sobre um tema fora de sua área de excelência pode gerar um questionamento. Porém, muitos intelectuais de diversas especialidades se pronunciando em uníssono, assinando um manifesto sobre um determinado assunto, tem tudo para se tornar um palpite equivocado que o tempo se encarrega de ridicularizar. Assim foi com a Torre Eiffel.
O Manifesto: Na verdade era uma “Protestation des artistes contre la Tour de M. Eiffel“, que ainda não tinha o nome oficial de seu construtor. Alguns a chamavam de “a Torre dos 300m”, ou “a Torre de Monsieur Eiffel”, ou, mais depreciativamente, “a Torre de Babel”. Mas a babel, a confusão, era dos intelectuais, não de Eiffel. O manifesto, vejam só, contava com mais de 40 assinaturas, quase todas de celebridades da época: escritores, poetas, músicos, pintores, escultores, arquitetos. (Em contraste com os dias de hoje, quando um tal manifesto, para ter peso, ainda que errôneo, teria de contar principalmente com atores, até porque tornou-se raríssimo alguém se celebrizar apenas pelo seu intelecto.). O tempo (não Le Temps) manteve na relevância apenas alguns desses intelectuais signatários. Aliás, o próprio Le Temps, após ser o principal jornal da Troisième République, desapareceu na irrelevância, deixando de ser publicado em 1942. O Le Monde, fundado em 1944, herdou o material do defunto Le Temps.
Os signatários do Manifesto: Constituíam uma verdadeira constelação. Entre os signatários da Protestation estavam o grande compositor Charles Gounod (o da Ave Maria), os escritores Guy de Maupassant (o maior contista da França), Alexandre Dumas, fils (o do melodramático La Dame aux Camélias), os poetas parnasianos François Coppée, Leconte de Lisle e Sully Prudhomme, os pintores William-Adolphe Bourguereau e Ernest Meissonier, e até mesmo o grande arquiteto Charles Garnier (o da Opéra de Paris). Nomes de enorme peso e influência internacional, que podiam inviabilizar o projeto da Torre Eiffel. Essa plêiade de intelectuais não queria que a Torre fosse construída de jeito nenhum. Estavam indignados com tamanha aberração, com essa coisa sem sentido, cara, inútil e feia… ‘Melhor dar abrigo, comida, escola, e saúde para os pobres’… Os quarenta intelectuais estavam equivocados: a Torre Eiffel se tornou o símbolo de Paris.
Disputas, inveja, equívocos: A Torre Eiffel é paradigmática das adversidades enfrentadas pelos inovadores. Criar uma torre, a mais alta do mundo, com um material novo, o ferro, causou uma enorme reação na França. Mas Gustave Eiffel tinha um networking eficaz e conseguiu ir em frente.
Espalharam um boato de que a Torre de Monsieur Eiffel cairia, e cairia sobre propriedades e pessoas que moravam ou trabalhavam nas redondezas. Como o Governo ficou calado, Eiffel garantiu que não cairia, e se caísse ele indenizaria danos. Não caiu. Está em pé até hoje, para glória de Paris.
O nome de nascença de Eiffel não tinha Eiffel: era Alexandre Gustave Bönickhausen. Seus detratores o acusaram de “alemão”, e mesmo de agente alemão, coisa grave numa época em que as feridas da Guerra Franco-Prussiana ainda doíam muito na França. Não havia Eiffel em seu nome. Eiffel era o lugar de origem de sua família, na Renânia, mas aí ele mudou: melhor Gustave Eiffel do que Gustave Bönickhausen…
Cinco séculos antes, fazer a cúpula do Duomo de Florença, com aquelas dimensões colossais de diâmetro e de altura, parecia loucura. Felizmente, na época de Brunelleschi não havia jornais para amplificar e propagar maledicência, como na de Eiffel havia. Hoje, então, com as mídias sociais…
Brunelleschi e as portas do Batistério: Mas não é possível entrar no caso da cúpula da Catedral de Florença sem antes falar das portas do Batistério. O concurso para escolher quem esculpiria as portas de bronze do Batistério de Florença constituiu uma grande e dolorosa derrota para Brunelleschi.
Filippo Brunelleschi, ‘Pippo” para os próximos, nasceu em Florença em 1377. Foi aprendiz na Arte della Seta, a mais rica guilda da cidade, que congregava os artesãos e artistas que lidavam com a lã, a seda e a ourivesaria.
Em 1400, a cidade de Florença decidiu completar os painéis de bronze para as portas do Batistério. Andrea Pisano, entre 1330 e 1336, já fundira 20 painéis de bronze para a Porta Sul, com o tema da vida de São João Batista, o santo padroeiro da cidade, mas restavam duas portas por fazer. Assim, no concurso para decidir quem faria as portas restantes, cada proponente recebeu quatro folhas de bronze, com pesos iguais, e deveria esculpir um painel com o Sacrifício de Isaac, entregando a proposta em um ano. Houve sete candidatos, todos ourives ou escultores da Toscana. O júri era composto de 34 membros, entre eles o homem mais rico de Florença, o banqueiro Giovanni di Bicci de’ Medici. Era coisa séria e de enorme prestígio. Até porque toda criança florentina era batizada ali.
O artista que vencesse aquele concurso teria assegurada não apenas uma imorredoura fama, e enorme prestígio enquanto vivesse, mas teria portas abertas para outros projetos importantes.