Notas & Comentários – 30-08-24

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Retomando a história do belo: Como já dissemos em Notas anteriores, Filippo Brunelleschi perdeu o concurso para esculpir as portas do Batistério de Florença. Tudo bem, pois o vencedor, Lorenzo Ghiberti, esculpiu a Porta do Paraíso, no dizer de Michelangelo. A civilização não perdeu. Um novo belo surgia e avançava perigosamente, tentadoramente.

Brunelleschi foi embora, para Roma. Na Cidade Eterna, estudou o Panteão e sua cúpula. Quando voltou para Florença, após quase duas décadas, já não queria mais ser escultor, mas arquiteto. Foi o maior da Renascença.

 

De volta a Florença: Brunelleschi começou a trabalhar (1419-45) no Ospedale degli Innocenti (onde se deixavam as criancinhas abandonadas, e que em português se chama de ‘a Roda’), obra financiada pela guilda dos mercadores da seda. Trabalhou também:

– na Basílica de São Lourenço (1421-42), a igreja dos Medici, inacabada por fora, mas belíssima marca da Renascença no interior;

– na Basílica de Santo Spirito, a partir de 1434, e

– na Capela Pazzi (1430-44),

deixando obras-primas admiráveis em todos esses lugares.


Visitei várias vezes Florença, e sempre me encantei com as obras de seus pintores, escultores e arquitetos. O que mais me comoveu, entretanto, foi o Ospedale degli Innocenti, o orfanato ou casa de acolhimento de criancinhas abandonadas. Porque me lembra as Santas Casas de Misericórdia, esse impagável legado português. Pela sóbria beleza dessa arquitetura renascentista com que Brunelleschi brindou o mundo. E sobretudo por essas imagens das criancinhas inocentes, enfaixadas, nos tondi de Luca della Robbia. O Menino Jesus proteja as criancinhas abandonadas.

A seguir, imagens da perfeição e exatidão das formas: a Basilica di San Lorenzo e a Chiesa di Santo Spirito – esta, a última grande obra de Brunelleschi:


 

O problema – o aumento do diâmetro da cúpula: O projeto da nova catedral de Santa Maria del Fiore ia aumentando e aumentando (vide ilustração abaixo), mas havia um problema: ninguém sabia como construir a cúpula.

A cúpula da catedral tinha um diâmetro externo de 54,8 e interno de 45,5m, quase o mesmo do Panteão, e a desafiadora altura de 80m (90m até a lanterna). Na verdade, não havia nenhuma cúpula desse tamanho construída desde a antiguidade, muito menos ascendendo a uma tal altura.

A altura do Panteão era igual ao seu diâmetro: 43,44m, ou seja, o diâmetro era mais ou menos igual ao da Catedral de Florença, mas a altura era a metade. A cúpula de Santa Sofia (Basílica consagrada em 527, em Constantinopla) tinha um diâmetro de 33m e altura de 55m, ambas dimensões menores que a cúpula necessária em Florença. A cúpula da Basílica de São Pedro (depois construída por Michelangelo) tinha diâmetro de 42m e altura total de 136m; porém o problema era muito mais o diâmetro do que a altura. O desafio de Brunelleschi era imenso.

E, por causa da altura da cúpula seria impossível usar andaime. Primeiro, porque não haveria floresta com bastantes árvores para suprir a demanda nos arredores de Florença; segundo, porque impediria que se dissesse Missa nesse meio tempo. Bem, desta vez Bruneleschi ganhou o concurso para construir a cúpula porque seu projeto era o único que dizia não necessitar de andaimes. Como assim?

É… a cúpula iria subindo e se sustentando em si mesma…

Os projetos da catedral de Florença, com o aumento de suas dimensões.