Caros,
Muitas vezes, os momentos que mais contam na vida são pessoais, pois vão além de meros objetivos corporativos, metas a alcançar, desempenhos medidos: conta o lado humano, o trato pessoal, a postura profissional, a correção nas atitudes, a disponibilidade no momento difícil, a justiça oportuna, a amizade nas agruras. Por isso, vou falar de três partidas e de uma chegada.
As partidas de Abraão, Max e Artur, pessoas de grande valor, maduros na profissão, provados no cargo. Decentes no comportamento. Eram parte da nossa tranquilidade.
E a cativante chegada de Baigorri, aquele ainda recém-formado economista, que permanece nossa tranquilidade.
Aqui, estou me despedindo de Max, o funcionário público que pediu demissão da Anatel, posição conquistada por concurso. A empresa que tiver contratado Max pode pensar ter conseguido uma pessoa experiente, respeitada, conhecedora de telecom, com grande acesso ao governo, mas – serendipity – ganhou uma coisa diferente só que muito melhor.
Idas e Vindas: Partidas são momentos solenes. Chegadas também. Estas Notas serão, necessariamente, de caráter pessoal.
Muitas vezes, os momentos que mais contam na vida são pessoais, pois vão além de meros objetivos corporativos, metas a alcançar, desempenhos medidos: conta o lado humano, o trato pessoal, a postura profissional, a correção nas atitudes, a disponibilidade no momento difícil, a justiça oportuna, a amizade nas agruras. Por isso, vou falar de três partidas e de uma chegada. Vou falar um pouco de Abraão e de Artur, dos quais já falei em outras Notas. Vou falar de Max, que parte de vez. E vou falar de uma chegada, a de Baigorri, uma história de completa surpresa.
Duas escolhas e um prazo. Uma saída com volta possível. Outra, sem volta. A outra, quem sabe? E uma chegada.
Abraão, Max e Artur são pessoas de grande valor, maduros na profissão, provados no cargo. Decentes no comportamento. Eram parte da nossa tranquilidade.
E a chegada de Baigorri, aquele economista recém-formado?
Abraão: Já falei aqui de Abraão Balbino. Solidifiquei minha impressão dele num almoço em que discorreu com imensa fluidez sobre temas tão variados quanto relevantes. A partir daí, a admiração pela grande capacidade de articular as coisas. Mesmo as mais complexas. Mas, por enquanto, é para a ABR que Abraão levará seu baú de ideias.
Artur: Falei dele aqui, quando saiu e quando voltou ao Ministério. Lamentei a saída e celebrei o retorno. Artur Coimbra manteve sempre aquela posição sóbria de quem domina o assunto discutido: firme, sem alarde.
Dias antes do fim do mandato de Artur como conselheiro, fui me despedir dele. Artur, sempre o mesmo em qualquer posição. O Setor deve muito à sua correção e previsibilidade.
Max deixa o serviço público: Abraão não pediu demissão, apenas uma licença. Permanece funcionário da Anatel. Perda grande, porém, temporária, em tese. Maximiliano Martinhão – Max – pediu demissão, deixa de ser funcionário da Anatel, posição que conquistou por concurso.. Perda grande, sem volta. Deixar o serviço público não é coisa trivial. É quase uma questão existencial.
Conheço Max há uns 20 anos, quando ele ainda trabalhava na Anatel, antes de ser cedido ao Ministério das Comunicações. Acompanhei seu amadurecimento e crescimento vertiginosos no Ministério das Comunicações e no Ministério da Ciência Tecnologia Inovação e Comunicação: competência reconhecida em administrações com pautas e ideologias diversas. Tudo merecido. Tenho, pois, autoridade para afirmar que é imensurável a perda, para o serviço público federal, com a saída de Max para o setor privado.
Há um abismo entre estar na área pública e estar na área privada. Um abismo de perspectivas, e de incertezas.
No serviço público há a estabilidade e, nesse sentido, uma certa tranquilidade. A pessoa honesta, por mais competente, tem um limite de padrão de vida: viverá modestamente o resto da vida – pelo menos quando se compara com as possibilidades de ganho na iniciativa privada.
No setor privado, pode ser que a gente ganhe bem, traga maior conforto à família. No entanto, pode perder tudo um belo dia.
A empresa que tiver contratado Max pode pensar ter conseguido uma pessoa experiente, respeitada, knowlegeadble, com bom acesso ao governo, mas – serendipity – ganhou uma coisa diferente só que muito melhor.
Baigorri entra em Telecom: Achei admirável – e cativante, a maneira como Baigorri entrou na área de Telecom.
Baigorri, recém-formado, em busca de emprego, bateu à porta de uma Associação. Quando a entrevistadora lhe perguntou qual a sua pretensão salarial, Baigorri respondeu – R$1 mil. A entrevistadora deu a entender que ele estava se desvalorizando e que seria difícil
ser contratado assim em qualquer lugar, etc. Ora, a entrevistadora, sendo profissional de muito alto valor, acabou saindo para uma posição de altíssimo prestígio na esfera pública, com todo merecimento, e, pouco tempo depois, Baigorri ficou diante de uma nova entrevistadora… Nesse intervalo de uns 6 meses, Baigorri estudou muito o assunto telecom: queria mesmo entrar no setor. Perguntado como tinha sido a entrevista anterior e quais suas pretensões, Baigorri doubled down: “eu havia pedido R$1 mil”, o que foi considerado um tanto desprestigioso, “mas quero muito este emprego, e mantenho minha proposta de salário de R$1 mil, com uma alteração: não quero receber nada nos primeiros 3 meses”.
Assim um economista recém-formado, mas determinadíssimo, iniciou sua trajetória num setor do qual se tornaria uma grande estrela: Presidente da Anatel. Com muito brilho.
Lembranças: Vejo essas partidas e chegadas com uma certa benevolência, até por já haver passado por decisões semelhantes. Em janeiro de 1994, pedi demissão do cargo de Secretário de Comunicações no velho Ministério das Comunicações. Naquela época pré-Anatel, eu era, de certa forma, o que a Anatel viria a ser: regulava todos os serviços, desde radiodifusão até telecomunicações, passando pela incipiente TV por assinatura. E estava no último nível salarial da Telebrás. Muitos me taxaram de louco. Fui para a Motorola. Conheci um novo mundo, como uma grande empresa americana funcionava, etc.
Chris Galvin, neto do fundador da Motorola, era o CEO mundial da companhia, e viajei com ele, no jatinho dele, para uma audiência com o Presidente Fernando Henrique. Tudo que FHC então nos falou, aconteceu: o Brasil mudaria, haveria competição, o monopólio estatal seria extinto, etc.
Não me arrependi da minha ousadia.
Desejo toda felicidade a Max e Abraão no desbravar desse novo mundo. E a Artur, qualquer que seja sua decisão.