Caros,
Muitos amigos comentaram com muita generosidade as primeiras Notas sobre Winston Churchill. O mérito, claro, é dele: há tantas coisas e tão interessantes para dizer sobre ele… Vamos continuar com Churchill…
Nessa época de começo de ano, em que são trocadas mensagens desejando “saúde e sucesso”, vem à mente uma quote de Churchill:
“Don’t wish for health and wealth, but for luck, for on the Titanic everyone was rich and healthy, but only a few were lucky!”
“Não deseje saúde e riqueza, mas sim sorte, pois no Titanic todos eram ricos e saudáveis, mas apenas alguns tiveram sorte!”
Foi de sua mãe, Jennie Jerome, e não de seu pai, que Winston Churchill derivou suas principais características: energia, amor pela aventura, ambição, um intelecto sinuoso, sentimentos calorosos, coragem e resiliência, e uma enorme paixão pela vida em todos os seus aspectos.
Jennie era bela e rica e casou-se com um duque inglês. Milionários americanos gostavam de casar-se com a nobreza britânica. A riqueza como que nobilitava os americanos…
O pai, Lord Randolph, foi para a África do Sul investiu em minas, ganhou muito dinheiro, mas quando morreu tudo teve de ser vendido para pagar suas dívidas.
“The main lesson of history is that humanity is unlearnable.”
“A maior lição da história é que a humanidade não aprende…”
Não aprende mesmo. Repete sempre os mesmos erros, ampliando-os, achando que os outros é que não sabiam fazer…
Os Churchill: Foi uma fonte de infelicidade para Winston o fato de ter visto tão pouco o pai, primeiro tão ocupado com os afazeres, depois tão abatido pelos infortúnios. Churchill se lembrou de cada palavra das poucas conversas pessoais que teve com o pai.
Os Churchill eram, no geral, pessoas medianas, sem uma distinção ou destaque especial. Mesmo o fundador da dinastia, John Churchill, primeiro Duque de Marlborough, poderia, na opinião do Rei Carlos II, ter permanecido um tranquilo senhor rural, se não tivesse sido estimulado a ir à luta pela sua espantosa e ambiciosa esposa, Sarah Jennings (o homem chamar a esposa de cara metade muitas vezes é um understatement: ela chega a ser pelo menos 75%, como no caso de Sarah). Dos seus sucessores, nenhum Marlborough alcançou distinção. E cinco dos primeiros sete duques foram vítimas de depressão patológica. Até Winston.
A mãe: Foi de sua mãe, Jennie Jerome (ainda que tampouco tivesse muito tempo para o filho) e não de seu pai, que Winston derivou suas principais características: energia, amor pela aventura, ambição, um intelecto sinuoso, sentimentos calorosos, coragem e resiliência, e uma enorme paixão pela vida.
Jennie era bela e rica. E milionários americanos costumavam casar- se com a nobreza britânica. A riqueza nobilitava os americanos…


Acima, o retrato de Jennie aos 26 anos, e a mansão de seu pai, na Madison Avenue, Nova Iorque. Jennie, vaidosa, adorava adentrar um ambiente e saber que todos admiravam sua beleza. Sem ligar para o fato de que a beleza pode dominar a razão e o discernimento, como admoestava Shakespeare:
“Beauty is a witch, against whose charms faith melteth into blood.”
“A beleza é uma feiticeira, diante de cujos encantos a fé se derrete em sangue.”
Jennie era muito americana: acreditava que o céu era o limite, que tudo era possível, que a tradição, os precedentes, a forma “certinha” de fazer as coisas, sempre poderiam ser ignorados quando a ambição exigisse. Ela adorava riscos elevados e não chorava — pelo menos por muito tempo — se não funcionassem.
O pai – Winston amava os pais com o amor ilimitado e irracional de criança e adolescente apaixonado. Mas eles o desapontaram continuamente, pela ausência, pela indiferença e pelas repreensões. Ele era um menino que não se saía bem na escola, salvo em história e inglês. Seu pai logo o considerou um fracasso acadêmico. Por isso, Lord Randolph decidiu não mandá-lo para Eton: não era inteligente o suficiente…
O pai de Churchill foi para a África do Sul na tentativa de fazer fortuna com ouro e diamantes. Obteve bons resultados. Mas quando morreu, em 1895, tudo teve de ser vendido para pagar suas dívidas. A essa altura estava claro que Winston teria que ganhar a vida sozinho. Mas, como Churchill mesmo reconheceu, mais tarde:
“Ganhamos a vida pelo que recebemos, mas fazemos a vida pelo que damos.”
“We make a living by what we get, but we make a life by what we give.”
Assim, Churchill teve de escrever muito para sobreviver, para alegria de seus leitores.
Combates: Churchill esteve em combates e próximo a combates muitas vezes em sua vida. Mas, ao contrário de George Washington, Churchill não achava que as balas e obuses tivessem “algo agradável no som”. Na verdade, ele aprendeu a se proteger: foi atacado cerca de cinquenta vezes ao longo de sua vida, e nunca foi atingido por uma bala.
“Nothing in life is so exhilarating as to be shot at without result.”
“Nada é mais excitante do que alguém dar um tiro em você, sem resultado”.
Andrew Roberts, em seu magistral livro Churchill: Walking with Destiny (Viking, 2018), lembra alguns perigos pelos quais Churchill passou:
– Nasceu de 7 meses, o que na Era Vitoriana equivalia quase a uma sentença de morte, pelo estado da medicina.
– Sofreu 3 acidentes graves de carro. P. ex., foi atropelado na 5ª Avenida em Nova Iorque, em 1931, por estar olhando para o lado errado (mão inglesa…).
– Durante a Guerra dos Bôeres (1899), foi capturado e fez uma fuga dramática e espetacular, que o tornou a maior celebridade do Reino Unido na época.
– Numa brincadeira com o irmão e um primo (e para se mostrar), pulou de uma ponte próxima ao Lago de Genebra (em 1893), enganando-se sobre a profundidade da água… só não morreu porque havia uma árvore caída à qual se apegou…
– Na 1ª Guerra Mundial foi para as trincheiras de janeiro a maio de 1916, expondo-se muito; andou entre a trincheira dele e a dos alemães, naquela área chamada de “no man’s land”, e chegou a ouvir a voz dos alemães falando na trincheira deles… A média de sobrevida ali era de 6 semanas…
– Sofreu dois acidentes de avião. Num deles, em 1919, sua aeronave se espatifou quando decolava no aeroporto de Croydon…
Por isso, Andrew Roberts pôs esse subtítulo do seu livro: Churchill: Walking with Destiny. Efetivamente, Churchill ia desafiando o perigo, caminhando com o destino, que teimava em protegê-lo.