Caros,
Silva Jardim, o grande propagandista da República, restou excluído dos arranjos e conchavos do novo regime. Mas, como haveria eleições, as quais numa República seriam honestas (iludia-se ele), ao final, ele, o lutador da República, prevaleceria… Ninguém sequer ousaria se candidatar contra ele… Coitado. Trinta anos é uma idade ainda imatura para entender certas coisas…
Silva Jardim tentou ser eleito em vários estados e, sem apoio suficiente, perdeu em todos. Não recebeu nem a metade dos votos do último colocado. Como assim? E o povo?
Bem, o povo é como o catalizador naquelas reações químicas: só entra para viabilizar a reação, e depois sai de cena. O povo acha que participou, mas, ao final, é partícula expletiva.
Todos os antigos processos eleitorais fraudulentos, que os republicanos achavam que só existiam no Império, persistiam; só mudaram os beneficiários. Os expedientes de aliciamento, de corrupção, de intimidações, os eleitores fictícios, as atas falsas: pior que no Império. A mudança de regime costuma ser um pretexto para mudança de elites, não de métodos. Aristides Lobo, republicano histórico, primeiro Ministro do Interior no novo regime, e neto de um revolucionário condenado à morte por participar da Revolução Pernambucana de 1817, se aproximou da verdade: “O povo assistiu à Proclamação da República bestializado, atônito, surpreso, sem saber o que significava aquilo. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada”.
Silva Jardim se havia envolvido completamente na campanha republicana, chegando, para isso, a vender sua banca de advogado e dissolver sua sociedade com Martim Francisco, prestigioso neto de José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”.
Desencantado com a política, anunciando que abandonava a política (na verdade, os políticos é que o abandonaram…), Silva Jardim partiu para a Europa em outubro de 1890. Tinha 30 anos. Passou por Portugal, França, Bélgica, Espanha e chegou, enfim, à Itália. Estando em Nápoles, fora avisado para não subir o Monte Vesúvio, pois havia indícios de próxima erupção. Mas, acostumado a devanear com suas utopias, subiu. Estava com um amigo brasileiro e um guia.
Um tremor de terra e… Silva Jardim foi tragado por uma fenda que se abriu na cratera do Vesúvio. Seu amigo escapou a custo, amparado pelo guia.
Assim morreu Silva Jardim; a República nem tinha dois anos de idade. Poucos lutaram tanto, e em condições pessoais tão adversas, pela República. Nenhum recebeu tão pouco em recompensa.
Boa semana,
Sávio.