Notas & Comentários – 09-05-2025

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A família do militante: Silva Jardim, ainda jovem, conhece a família do Conselheiro Martim Francisco de Andrada, neto do Patriarca da Independência, e, por isso, figura de grande destaque na sociedade paulistana. Casa-se com Ana Margarida, filha de Martin Francisco e de Ana Benvinda Bueno de Andrada (sexta-neta de Amador Bueno, capitão-mor), com quem teve 4 filhos.

Mas Silva Jardim era um idealista, para quem utopias eram não só realizáveis, mas realidade. Apostou tudo pela República, e da República nada recebeu, salvo ingratidão. Envolveu-se completamente na campanha republicana, chegando, para isso, a vender sua banca de advogado e dissolver sua sociedade com Martim Francisco.

Já contamos em Notas anteriores sua desilusão política. Não ocupou nenhum cargo público relevante. Não teve nenhuma de suas candidaturas promovidas pelo novo Regime. Perdeu todas as eleições em que se candidatou. Constatou que os arranjos eleitorais do Império subsistiam, de forma piorada.

Bem, o município fluminense de Capivari, em que nasceu, tem hoje seu nome – Silva Jardim.

 

Raul de Leoni e a ingratidão: Lembrei-me de um soneto famoso de Raul de Leoni cuja título é, exatamente, Ingratidão. O poeta plantou uma amendoeira que cresceu, cresceu e foi dar frutos no pomar alheio (https://blog.sitedepoesias.com/poemas/ingratidao/ ):

Cresceu… cresceu… e aos poucos, suavemente,

Pendeu os ramos sobre um muro em frente

E foi frutificar na vizinhança…

A plantação de Silva Jardim frutificou em vários vizinhos, inclusive para Xavier da Silveira… Talvez por isso Jardim sentia liberdade de fazer pedidos a Silveira.

 

“Amigo é pra essas coisas”? Silva Jardim já havia enviado um bilhete a Xavier da Silveira, e enviou outro (Leilão Vera Nunes de Livros e Papéis). Curiosa a saudação final, positivista, leiga, utilitária: “Saúde e Fraternidade”. Nada de “Muito Obrigado”, ou “Gratíssimo”, ou “Deus lhe pague”. Mas termina mui familiarmente com “Teu Silva Jardim”.

“Capital Federal, 5 de março de 1890. Xavier, amigo. Apresento-lhe o cidadão Braz de Mello, meu amigo a quem peço dispensar todas as attenções de que é digno. Saude e Fraternidade. Teu Silva Jardim.”

Em política, relacionamento é tudo. E é o restava a Silva Jardim.

 

Silveira Martins – poderoso no novo regime: Joaquim Xavier da Silveira Júnior nasceu em 1864, em Santos. Era casado com Laura Martins Ribeiro Xavier da Silveira, com quem teve dois filhos. Aos 47 anos, quando morreu, em 1912, tinha feito uma carreira muito destacada na República:

– Em 15 de novembro de 1889, dia da Proclamação da República, foi feito Delegado de Polícia no Rio de Janeiro.

– Em 10 de março de 1890, com apenas 26 anos de idade, foi nomeado governador do Rio Grande do Norte.

– Sob o Presidente Floriano Peixoto (1891–1894), foi nomeado Chefe de Polícia do Distrito Federal: quanto poder!

– Em 1897 foi nomeado ministro da Justiça e Negócios Interiores, durante a interinidade de quatro meses do vice-presidente Manuel Vitorino Pereira, no afastamento de Prudente de Morais, por problemas de saúde; foi nessa interinidade que Vitorino comprou o Palácio Nova Friburgo, que passou a se chamar Palácio do Catete.

– Foi Deputado de maio de 1897 a dezembro de 1899.

– O Presidente Campos Sales o nomeou Prefeito do Distrito Federal em 11 de outubro de 1901, permanecendo nessa função até 27 de setembro de 1902. Deu início à construção do Cais Pharoux, na Praça 15 de Novembro; iniciou a avenida Beira-Mar e inaugurou a iluminação elétrica de Ipanema. Foi o iniciador dos melhoramentos materiais da cidade, continuados pelo prefeito Pereira Passos.

– De 1910 a 1912, foi presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros, atual Ordem dos Advogados do Brasil.

 

Prestígio Póstumo: Em 1936, no governo de Getúlio Vargas, foi dedicada a Silveira Martins a efígie da nota de 50 mil réis (vide acima). Que trajetória fulminante a de Silveira Martins! Quantas honrarias. E Silva Jardim já estava morto na cratera do Vesúvio há muito tempo. Em geral, o militante é menos reconhecido do que o político. O militante carrega o piano; o político rege a banda. O contato com as elites (com quem manda ou vai mandar) é mais proveitoso do que o contato com o povo (que é sempre mandado).