Notas & Comentários – 01-07-2022

Inauguração do Arco do Triunfo: O Arco do Triunfo foi inaugurado em 29 de julho de 1836, para marcar o 6º aniversário da revolução (Les Trois Glorieuses) que levou Luís Felipe ao trono francês. Ao final, o tema das esculturas, assim como os escultores do Arco, foram escolhidos por Luís Felipe.

Fiel ao seu estilo nem muito aqui, muito menos acolá, Luís Felipe não compareceu à inauguração, para não ferir susceptibilidades dos embaixadores dos países derrotados pela França revolucionária ou napoleônica (mas também por temer atentados contra sua vida).

A multidão gostou do que viu. Durante todo o dia foram executados hinos revolucionários e imperiais. À noite, mil lâmpadas a gás iluminaram o monumento.

O Retorno das Cinzas do Imperador: O Rei Luís Felipe se capitalizou sempre em cima das glórias de Napoleão.

O cortejo fúnebre com “les cendres” de Napoleão cruza o Arco do Triunfo. A carroça era puxada por 12 cavalos negros arreados em dourado, e escoltada por centenas de homens.

O Imperador, morto em 1821, manifestara o desejo de ser sepultado às margens do rio Sena. O Parlamento inglês, após recusar dois pedidos anteriores, finalmente aprovou, em 1840, o translado dos restos de Napoleão para a França. Aliás, quem foi buscar “as cinzas de Napoleão” foi um filho de Luís Felipe, François d’Orléans, o Príncipe de Joinville, casado com dona Francisca de Bragança – dona Chicá para os íntimos franceses, irmã do nosso Dom Pedro II. A cidade de Joinville, em Santa Catarina, foi fundada em terras que constituíram o dote de casamento de Dona Francisca com o Príncipe de Joinville.

Após muito debate, ficou decidido que o Imperador seria inumado sob o magnífico Dôme des Invalides. A França não iria fazer por menos com seu personagem mais conhecido em toda a história.

Dois episódios da pequena história: Uma cena da petite histoire (e da petite politique): quando Joinville chegou, com os restos mortais de Napoleão no porto de Cherbourg, havia um novo ministro nos Affaires Étrangères, um anti-bonapartista, que não queria valorizar nada de Napoleão… Joinville ficou esperando e esperando, até que um barco pôde subir o Sena com os despojos do Imperador porque, afinal, o povo não ia entender que l’Impereur estava num porto francês, esperando para poder entrar na França.

Outro episódio interessante dessa história. Quando Napoleão estava preso na Ilha de Santa Helena, o porto mais próximo era Recife. Quando estourou a Revolução Pernambucana de 1817, os franceses pró-Napoleão resolveram aproveitar a situação e resgatar o Imperador, com a ajuda dos revolucionários, que haviam enviado Antônio Gonçalves da Cruz Cabugá aos EUA em busca de ajuda … O irmão de Napoleão, José, ex-rei da Espanha, morava nos EUA como muitos outros militares franceses. Quando, porém, navios do resgate chegaram ao Brasil a Revolução Pernambucana, que começara em 6 de março, havia já sido debelada em 20 de maio, com 9 líderes enforcados e 4 arcabuzados…

A Comuna: A Comuna de Paris foi uma das grandes desgraças da história francesa, exibindo cenas cruéis – precursoras daquelas que adviriam no séc. XX -, e reprimida com extrema brutalidade por aqueles que logo depois criariam a República Francesa (La Troisième République).

Interessante notar que o Arco do Triunfo sofreu pouco com os bombardeios da Prússia na Guerra Franco-Prussiana de 1870-71. Mas os communards, cercados pelas tropas do novo governo francês, se entrincheiraram no Arco, e lá postaram 5 canhões. Deram tantos tiros que as vibrações começaram a fazer oscilar a estrutura. Pararam. Até porque não queriam que aqueles grandes blocos de pedra caíssem em suas cabeças.

O Funeral de Victor Hugo: Victor Hugo foi um dos poetas mais famosos de toda a história. Escreveu poesias, peças de teatro e romances que mudaram os rumos da literatura. Um gigante artista da palavra. Pouquíssimos poetas tiveram seu nome de família (Hugo era o nome de sua família) transformado em nome de batismo: Hugo se tornou um nome corriqueiro.

Quando ele faleceu – mesmo os poetas são mortais – em 22 de maio de 1885, o país decidiu que ele teria um Funeral de Estado. O catafalco, com 22m de altura, com o corpo do grande poeta em cima, permaneceu sob o Arco do Triunfo durante os funerais em 31 de maio. Finalmente, seu corpo foi enterrado do Panteão.

Catafalco de Victor Hugo, 31 de maio de 1885. Durante alguns anos estava instalado no alto do Arco o grupo monumental de Alexandre Falguière, o Triunfo da Revolução.