Notas & Comentários – 21-07-2023

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O fogo grego: Iniciamos, nestas Notas, um resumo do avanço das armas de guerra, do fogo grego à dinamite.

Os exércitos gregos e romanos foram poderosos, não por aspectos tecnológicos, mas pela disciplina, pela organização, pela logística. E, muitas vezes, pela força de estarem defendendo uma boa causa.

A primeira vez que a tecnologia fez a diferença numa guerra foi com Fogo Grego.

Constantinopla foi três vezes salva dos cercos marítimos árabes (669; em 674–678; e em 717–718) pelo uso do Fogo Grego.

O Fogo Grego era uma arma incendiária tremenda, às vezes atirada como se por um lança-chamas (vide ilustração abaixo), e que continuava queimando mesmo na água. Era uma arma química, desenvolvida por um certo Callinicus, um químico bizantino. Muitas dessas inovações decisivas da história vieram pela Química: vide Alfred Nobel (dinamite) e Fritz Haber (amônia retirada do ar).

Fogo grego destruindo navios árabes, a partir do lança-chamas de um navio

Acima, o fogo grego destruindo navios árabes, a partir do lança-chamas de um navio.

Não fosse o Fogo Grego, o Império bizantino, muito debilitado nas guerras contra os persas, teria sucumbido diante do ataque muçulmano. A própria Pérsia já caíra; o Egito, a Palestina, a Síria, o norte da África, tudo já caíra…

Ninguém, até hoje, conhece a fórmula do Fogo Grego; sua composição foi sempre guardada estritamente. Os possíveis ingredientes incluíam resina, asfalto, enxofre, nafta, cal viva e fosforeto de cálcio, mas qual a proporção, e como e em que momento eram misturados?

O arco longo – a Guerra dos Cem Anos: O arco longo (longbow) é um tipo de arco com um comprimento quase equivalente à altura da pessoa que o empunha, pouco recurvado ou quase reto e com braços relativamente finos, de secção circular ou em “D”. Tipicamente feito de uma única peça de madeira natural.

O exemplo mais famoso de arco longo é inglês – o longbow, confeccionado tradicionalmente de madeiras como o carvalho, o eixo, o freixo e o ulmeiro e utilizado pelos exércitos ingleses com remenda eficácia na Guerra dos Cem Anos.

O arco longo usado pelos arqueiros ingleses e galeses era exclusivo deles. Eram necessários até dez anos de treino para dominar um longbow e um arqueiro experiente podia disparar até dez flechas por minuto a mais de 300 m. Uma besta pesada disparava menos de um tiro por minuto.

Ao aprisionar um arqueiro inglês, o inimigo, para inutilizá-lo, cortava os dois dedos fundamentais que usava para disparar as flechas mortíferas.

A curta distância, a flecha podia ser apontada diretamente a um alvo concreto, e era capaz de penetrar em cota de malha e até armaduras de placas leves naquela época. Esses tiros de arco longo se assemelhavam, por assim dizer, à artilharia moderna. Para maiores distâncias, os arqueiros soltavam os projéteis para o alto, os quais faziam uma trajetória curva até as formações inimigas. As flechas do arco longo perdiam força de penetração em distâncias maiores, permanecendo ainda efetivas contra infantaria leve.

O arco longo – Crécy: A Batalha de Crécy, travada em 1346, constituiu um enorme triunfo dos arqueiros ingleses, na Guerra dos Cem Anos, sobre forças francesas muito superiores. Afrontaram-se Rei inglês, Eduardo III, contra o Rei de França, Felipe.

A batalha se iniciou no final da tarde, e caiu uma forte chuva nesse momento. Os arqueiros ingleses disparam suas flechas, vez que a água poderia afrouxar as cordas do arco. Houve um duelo entre o arco longo inglês e os besteiros genoveses a serviço da França, mas aqueles, com uma cadência de tiro 3 a 10 vezes maior, fizeram os genoveses se retirarem, o que atrapalhou a carga da cavalaria francesa.

Crécy foi o cemitério da Nobreza francesa. Do primeiro dia de batalha foram encontrados os corpos de 1542 nobres franceses; possivelmente, mais algumas centenas no segundo dia. Mais de
2200 insígnias heráldicas foram recolhidas após a batalha.

Um número desproporcional de nobres franceses pereceu, incluindo um rei (João da Boêmia), nove príncipes, dez condes, um duque, um arcebispo e um bispo. Em parte, isso se deve aos ideais da
Cavalaria que os franceses ainda cultuavam: os nobres preferiam morrer em batalha a fugir desonrosamente do campo, principalmente à vista de seus companheiros cavaleiros: seguiam um código de honra anterior ao longbow.

Lutar contra algo novo, desconhecido: Um dos grandes problemas de um exército é enfrentar um inimigo desconhecido, que luta de forma diferente, com armas diferentes, aplicando táticas diferentes, segundo códigos de honra diferentes. Foi o caso do Império Bizantino e da Europa Ocidental cristã contra os muçulmanos; de Napoleão quando invadiu a Rússia e só encontrou terra arrasada; dos russos contra os japoneses na Guerra Russo-japonesa de 1904-5, que marcou o começo do fim do Czar.

Quando os Cruzados chegaram ao Oriente se deparam com fortalezas com muralhas de pedra em Niceia, Antioquia e Jerusalém (como a muralha tripla de Constantinopla), enquanto na Europa eram comuns as defesas e paliçadas de madeira ou de terra.

muralha de Constantinopla