Caros,
Neil Postman, em seu espetacular livro Amusing Ourselves to Death (Penguin Books,1985) constatou que, na televisão, todo discurso público assumia cada vez mais a forma de entretenimento. Seja em política, religião, notícias, esportes, educação e comércio, tudo foi transformado em uma espécie de apêndice do show business. O resultado é, Postman afirma, que somos um povo à beira de nos divertir até a morte. Daí o nome desse seu livro genial.
Na época em que Postman escreveu seu livro, o presidente dos Estados Unidos era um ex-ator de cinema de Hollywood, Ronald Reagan. E um de seus principais adversários em 1984 tinha sido um ator de destaque na televisão dos anos 1960, o astronauta John Glenn. O ex-pretendente presidencial, George McGovern, apresentou o popular programa de televisão “Saturday Night Live”.
O ex-presidente Richard Nixon, que certa vez alegou ter perdido a eleição contra John Kennedy porque foi sabotado por maquiadores, ofereceu ao irmão de John, Edward Kennedy, conselhos sobre como concorrer seriamente à presidência: perder dez quilos. Por isso, Postman afirma que podemos ter chegado ao ponto em que os cosméticos substituíram as ideias como o campo de especialização sobre o qual um político deve ter controle.
Quando Marshall McLuhan disse que a “mensagem é o meio”, estava correto, no sentido de que o meio molda a mensagem; não dá para filosofar, se o meio de comunicação for a fumaça.
Postman é deliciosamente profundo.
Cultura e entretenimento: Neil Postman, em seu espetacular livro Amusing Ourselves to Death (Penguin Books, 1985) constatou que, na televisão, todo discurso público assumia cada vez mais a forma de entretenimento. Seja em política, religião, notícias, esportes, educação e comércio, tudo, ou quase tudo, foi transformado em uma espécie de apêndice do show business. O resultado é, Postman afirma, que somos um povo à beira de nos divertir até a morte. Daí o nome desse seu livro genial.
Brevíssimas constatações (1) – política: Na época em que Postman escreveu seu livro, o presidente dos Estados Unidos era um ex-ator de cinema de Hollywood, Ronald Reagan. E um de seus principais adversários na campanha eleitoral de 1984, o astronauta John Glenn, tinha se destacado em um programa glamouroso da televisão dos anos 1960. O ex-pretendente, George McGovern, apresentou o popular programa de televisão “Saturday Night Live”. Enquanto isso, o ex-presidente Richard Nixon, que certa vez alegou ter perdido a eleição para John Kennedy porque foi sabotado por maquiadores, ofereceu ao irmão de John, o senador Edward Kennedy conselhos sobre como concorrer seriamente à presidência: perder dez quilos. Por isso, Postman afirma, mordazmente, que podemos ter chegado ao ponto (1985!) em que os cosméticos substituíram as ideias como o campo de especialização sobre o qual um político deve ter controle.
Brevíssimas constatações (2) – jornalismo: Os jornalistas americanos, ou seja, os apresentadores de telejornais, também cultivam essa visão. É Postman quem o diz: a maioria passa mais tempo com seus secadores de cabelo do que com seus roteiros. Embora o Telecommunications Act não faça menção a isto, aqueles sem “apelo de câmera” são, na prática, excluídos da apresentação das “notícias do dia”. Aqueles com apelo de câmera podiam e ainda podem, meros locutores que sejam, se estabelecer com altos salários. O locutor é a notícia…
Os clichês e o argumento central: Postman afirma que os exemplos acima não são aberrações, mas, na verdade, clichês. Não faltam críticos que observaram e registraram a dissolução do discurso público nos EUA e sua submissão às artes do show business. Contudo, o argumento central de seu livro é de outra ordem. É um argumento que fixa a atenção nas formas de conversação humana e postula que a forma como somos obrigados a conduzir tais conversas terá grande influência sobre quais ideias podemos expressar convenientemente. E quais ideias são convenientes para expressar, inevitavelmente, se tornam o conteúdo importante de uma cultura. Postman usa a palavra “conversa” metaforicamente para se referir não apenas à fala, mas a todas as técnicas e tecnologias que permitem que pessoas de uma determinada cultura se comuniquem. Na sua análise, as formas de conversação em uma cultura terminam seja por moldar seja por regular o seu conteúdo.
Comunicação por sinais de fumaça e a metafísica – um exemplo: Para dar um exemplo simples do que isso significa, Postman considera a tecnologia primitiva de sinais de fumaça. Pode-se afirmar com segurança que sinais de fumaça não incluíam argumentos filosóficos. Baforadas de fumaça são insuficientemente complexas para expressar ideias sobre a natureza da existência e, mesmo que não fossem, um filósofo ficaria sem madeira muito antes de chegar ao seu segundo axioma. Não é possível usar fumaça para fazer filosofia. O meio limita e exclui o conteúdo.
Quando Marshall McLuhan disse que a “mensagem é o meio”, estava correto, no sentido de que o meio molda a mensagem; não dá para filosofar, se o meio de comunicação for a fumaça.
Postman é deliciosamente profundo.