Caros,
Dado o tempo de aperfeiçoamento da prensa, do papel, da tinta, da confecção das letras, qual livro imprimir, um livro que pudesse compensar todo capital investido? A Bíblia. Mas não qualquer Bíblia; era necessário confeccionar um livro belo, agradável como um Livro de Horas. De outra forma, não venderia, nem estabeleceria a autoridade da nova invenção.
Parte da Bíblia de Gutenberg foi impressa em papel (uns 150 exemplares, dos quais sobrevivem 39), parte em pergaminho (uns 30, dos quais sobrevivem 12 exemplares).
A produção do pergaminho era local, feito a partir de pele de cabra, carneiro, ovelha, cordeiro ou bezerro. Gutenberg precisou das peles de uns 5.000 cordeiros ou bezerros para suas 30 Bíblias em pergaminho. Ou seja, tinha de fazer o pedido com alguns meses de antecedência. Cada pele tinha de ser raspada, amolecida num barril, tratada com cinzas e cal, esticada, secada, amaciada…
Já o papel tinha de ser encomendado em outro lugar, não em Mogúncia. Eram quase 200.000 páginas, sendo que todo o papel era fabricado a mão, e tinha de ser de alta qualidade. O papel alemão não servia: foi todo importado da Itália, o que pode ser verificado pela marca d’água.
Gutenberg criou a justificação das linhas. Os escribas dos manuscritos não tinham como conseguir alinhar a terminação das linhas, pois sabiam quando começava, não quando ia terminar a linha sendo escrita.
Imprimir o que? Dado o tempo de aperfeiçoamento da prensa, do papel, da tinta, da confecção das letras, qual livro imprimir? Que livro poderia dar retorno a todo esse investimento? – A Bíblia. Mas não qualquer Bíblia; era necessário confeccionar um livro belo, agradável como um Livro de Horas. De outra forma, não venderia, nem estabeleceria a autoridade da nova invenção.
Havia outras publicações, fora a Bíblia, que poderiam ser impressas – e Gutenberg as imprimiu: livros mais baratos de produzir, e que não precisavam ser livros bonitos, como a gramática latina Ars Grammatica, de Aelius Donatus, de apenas 28 páginas, muito requerida por professores e alunos. Podia imprimir calendários, missais, etc.

Implementos para imprimir: Em 4 meses, três ourives conseguiriam fazer as matrizes dos 290 tipos ou letras necessários para impressão da Bíblia de Gutenberg, a celebérrima Bíblia de 42 linhas, ou B-42.
Parte da Bíblia de Gutenberg foi impressa em papel (uns 150 exemplares, dos quais sobrevivem 39), parte em pergaminho (uns 30, dos quais sobrevivem 12 exemplares). Curiosamente, havia apenas uma dessas Bíblias de Gutenberg em mãos privadas, na chamada Biblioteca Scheide que, desde 2015 tornou-se parte da Biblioteca da Universidade de Princeton. Três gerações da família Scheide construíram uma extraordinária coleção, a única fora da Europa que possuía as quatro primeiras Bíblias impressas. O primeiro desses Scheide fez fortuna na área de petróleo. Após a morte do último desses Scheide, a Biblioteca foi doada a Princeton.
O Pergaminho e o Papel: A produção do pergaminho era local, feito a partir de pele de cabra, carneiro, ovelha; quando feito de pele de cordeiro ou bezerro, esse pergaminho mais delicado se chama velino ou vellum). Gutenberg precisou das peles de uns 5.000 cordeiros ou bezerros para suas 30 Bíblias em pergaminho. Ou seja, tinha de fazer o pedido com alguns meses de antecedência. Cada pele tinha de ser raspada, amolecida em líquido apropriado, num barril, tratada com cinzas e cal, esticada, secada, amaciada…

Já o papel tinha de ser encomendado em outro lugar, pois o de Mogúncia (e o do resto da Alemanha) não servia, por não ter a qualidade necessária: foi todo importado da Itália, o que pode ser verificado pela marca d’água. Eram quase 200.000 páginas, sendo que todo o papel era fabricado a mão.
Possivelmente, havia 6 pessoas compondo os tipos em fôrmas, cada um trabalhando em 3 páginas: compondo uma página, imprimindo uma segunda, desmanchando uma terceira. Cada página da Bíblia de Gutenberg (B-42) continha cerca de 500 palavras, uns 2.000 caracteres. Isso demandava 46.000 caracteres (ou letras, ou tipos), ou mais. O espaço para as Iniciais historiadas (ou decoradas) era deixado em branco, para inscrição manual, posterior: o comprador podia até escolher como queria essas iniciais.
Gutenberg criou a justificação das linhas. Os escribas dos manuscritos não tinham como conseguir alinhar a terminação das linhas, pois sabiam quando começava, mão quando ia terminar a linha sendo escrita. Por isso, usavam abreviações, e letras de tamanho diferente – uma espécie de ajuste usando um ‘Leito de Procusto’… Mas Gutenberg conseguiu: para ele era possível voltar na fôrma, e mudar o espaçamento de letras e palavras, deixando a página mais vistosa.