Caros,
As Big Techs da Internet não apenas controlam a informação, mas lograram algo bem menos perceptível: as Big Techs impuseram uma nova linguagem, uma nova epistemologia, uma nova semântica, uma nova gramática, um novo vocabulário, uma nova escrita. Parafraseando Marshall McLuhan, o meio das Big Techs é a mensagem, pois condiciona a mensagem. É difícil superestimar o poder do meio sobre a mensagem.
Por exemplo, quando o meio eram sinais de fumaça, não havia como fazer argumentações filosóficas. Quando o meio é a TV, o candidato a deputado tem de se apresentar, e apresentar seu programa, fazer seu discurso em ridículos segundos. O grande meio de expressão do pensamento foi o livro, principalmente o livro impresso com tipos móveis, o livro a partir de Gutenberg, que, tragicamente, perdeu seu ímpeto civilizador ante as mídias eletrônicas ao longo do séc. XX.
Com essa alteração profunda que a Internet provocou na mensagem (por causa do meio) convém lembrar um ponto que tem passado um pouco em silêncio: As pessoas mais velhas, muitas vezes, não conseguem aprender uma nova linguagem. Tornam-se analfabetos digitais. No dizer de Tim Wu, tornam-se eremitas sociais.
Há disposições para a locomoção de cadeirante, rampas nas calçadas; atendimento para cegos; gente replicando discursos em sinais para surdos. Mas o velho, muitas vezes, não consegue se locomover no mundo digital, não consegue ver e entender o discurso digital; nem fala nem ouve na linguagem digital. Dependendo de um smartfone para se comunicar, é constrangido à mudez. E nada é feito por eles.
Sempre me impressionou a falta de caridade com o velho no mundo digital. Talvez advenha da falta de tempo dos mais novos, demasiado entretidos em jogar, brincar, compartilhar futilidades, ver notícias falsas, divertir-se na Internet.
A Mensagem é o Meio: As Big Techs da Internet não apenas controlam a informação, mas fizeram algo bem menos perceptível: as Big Techs impuseram uma nova linguagem, uma nova epistemologia, uma nova semântica, uma nova gramática, um novo vocabulário, uma nova escrita. Parafraseando Marshall McLuhan, o meio das Big Techs é a mensagem, pois condiciona profundamente a mensagem.
Por exemplo, quando o meio eram sinais de fumaça, não havia como fazer argumentações filosóficas. Quando o meio é a TV, o candidato a deputado tem de se apresentar, e apresentar seu programa, fazer seu discurso em ridículos segundos. O grande meio de expressão do pensamento foi o livro, principalmente o livro impresso com tipos móveis, o livro a partir de Gutenberg, que perdeu seu ímpeto civilizador ante as mídias eletrônicas ao longo do séc. XX.
O problema da velhice: Com essa alteração profunda que a Internet provocou na mensagem (por causa do meio) convém lembrar um ponto que tem passado um pouco em silêncio: As pessoas mais velhas, muitas vezes, não conseguem aprender uma nova linguagem. Tornam-se analfabetos digitais (perdão pela catacrese). No dizer de Tim Wu, tornam-se eremitas sociais.
Há disposições para a locomoção de cadeirante; rampas nas calçadas, entrada em ônibus; escrita e atendimento para cegos; gente replicando discursos em sinais para surdos. O velho, muitas vezes, não consegue se locomover no mundo digital, não consegue ver e entender o discurso digital; nem fala nem ouve na linguagem digital. Dependendo de um smartfone para se comunicar, é constrangido à mudez. E nada é feito por eles.
Sempre me impressionou a falta de caridade com o velho no mundo digital. Talvez advenha da falta de tempo dos mais novos, demasiado entretidos em jogar, compartilhar futilidades, ver notícias falsas e divertir-se, – o produto mais usado da Internet.
A hora da regulação e da desregulação: Chegou a hora de regular aspectos de uso da Internet. Das Big Techs, necessariamente. Elas deixaram de ser a periferia que necessitava de ajuda para nascer e se firmar. Hoje, são o centro do mundo. Nasceram, se firmaram e… dominaram.
As Big Techs dominam cada país, desde fora. Elas são um país. São soberanas.
Ao mesmo tempo, como lembra Girasole em seu artigo, é preciso desregular aspectos da velha telecomunicação. Por exemplo, a questão da neutralidade de rede. Um exemplo de como a boa intenção é ultrapassada pela realidade e pela tecnologia. Tendo sido revogada em 2017, nos EUA, e tornada um estorvo pelo 5G, a neutralidade parece uma anciã inútil, atravancando o progresso.
É curioso o caso das fake news em torno da neutralidade de rede, na época de sua discussão. Diziam que, sem ela, a Internet não seria mais a mesma. Cinco anos após seu sepultamento pela FCC, sua ausência é imperceptível, seu efeito é nenhum, sua ausência é um bem. E a Internet segue seu avanço. Na academia, a literatura sobre a neutralidade tem-se esvaziado; na prática cotidiana, tornou-se quase um non-issue; o que, aliás, é o que sempre foi.
O Planejamento Estratégico da Anatel: Desde 2021, a Anatel conta com um primoroso estudo contratado à Roland Berger que explora vários caminhos, e alertas vários.
Acesso a serviços de telecom já não mais constitui a grande demanda da sociedade, mas sim a Conectividade. E conectividade vai além de rede de telecomunicação. Logo, por esse ângulo, o mandato da Anatel perde foco no que interessa à população, ou seja, a missão da Anatel se dissocia do interesse público. É como regular aspectos obsoletos dos táxis, enquanto o mundo anda de Uber, 99Taxi e outros. É como deter-se em regulamentos que que determinam as dimensões da porta de um hotel num mundo de AirBnb e Couchsurfing.
Toda reforma é delicada: Mas, como mudar o ambiente regulatório? Alterar e redirecionar o escopo de agências? Extinguir agências? Diminuir a relevância de agências?
O que às vezes parece uma reforma pode ser uma revolta; o que parece uma revolta pode ser uma revolução. Luís XVI que o diga.
Mesmo numa escala burocrática é isso que pode ocorrer. E, por isso, o processo de reforma deve ser conduzido com cautela.
Mas os primeiros passos já são dados em países como a Coréia do Sul. Lá, o Parlamento Sul Coreano aprovou a “Lei Netflix”, obrigando provedores de conteúdo com 1% ou mais do total do tráfego médio diário do país e com mais de 1 milhão de assinantes diários a pagar uma taxa de uso de infraestrutura.
De fato, a antiga periferia, no caso a Netflix, entre 2021 e 2022, viu seu tráfego aumentar 26 vezes, com impactos de dezenas de milhões de dólares sobre a empresa sul coreana SK Broadband.
A Austrália, por sua vez, aprovou lei que obriga buscadores e redes sociais a remunerarem meios de comunicação locais cujos conteúdos forem relacionados nos resultados de busca ou em newsfeed.
Quem tomará a iniciativa? Se mudanças são necessárias, quem as proporá? A autoridade governamental, sem mão de obra? As operadoras, mais afeitas a brigar umas contra as outras? As associações, cada vez mais perdendo seu papel? As alianças, partisãs, como sempre? O Congresso, sem pressão pública?
Mas é preciso.