Notas & Comentários – 29-11-2024

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Chesterton: Dificilmente há um escritor tão agradável de se ler como Gilbert K, Chesterton (1874 – 1936). Ele diz coisas profundas com muita graça; coisas que tocam o coração e a alma da gente. Nesta nossa época de tantas angústias, decepções, tristezas, é iluminador ler Chesterton.

A partir desta semana, vamos falar dele, sua vida e visões. Na derrocada do Império, os romanos diziam: “Morrer se divertindo”. Na derrocada de nossos tempos, talvez melhor sorrir um pouco, com coisas sérias.

Chesterton era, essencialmente, um jornalista. Mas que jornalista! Íntegro, amante do fato, da verdade. E capaz de interpretar tudo de modo não apenas correto, mas delicioso. A esposa de Chesterton, Frances, às vezes insistia para ele se dedicar a uma modalidade intelectual menos fugaz, menos efêmera do que escritos para jornal, mas a crônica dele era eterna, por tratar de temas que não passam.

Na verdade, os textos de Chesterton são tão atuais e palpitantes como há um século. Ele sabia extrair o permanente do efêmero.

Machado de Assis escrevia deliciosas crônicas, publicadas todos os domingos no mais popular jornal do Rio de Janeiro, A Semana. Hoje, claro, praticamente ninguém compra um jornal só para ler um bom jornalista que lá mantenha uma coluna. Mas, sim, valia a pena comprar A Semana para ler Machado, assim como muita gente comprava The Illustrated London News só para ler Chesterton: e quantos grandes gênios da literatura inglesa faziam isso, e declaravam que faziam isso.

Assim, vamos adentrar um pouco o mundo visto e descrito por Chesterton. Quem sabe, veremos o mundo com outro olhar, um olhar mais esperançoso, talvez.

 

O paradoxo do jornalista: No The Illustrated London News, que circulou semanalmente de 1842 até 1971, escreveram estrelas como Robert Louis Stevenson, Thomas Hardy, Rudyard Kipling, Joseph Conrad, Sir Arthur Conan Doyle, Sir Charles Petrie, Agatha Christie… Mas a maior estrela do The Illustrated London News foi Gilbert K. Chesterton, que escreveu lá durante 31 anos.

Chesterton criou mais de 5.000 artigos para jornais. Passam de 100 os livros que publicou, alguns constituindo obras primas que ainda hoje nos impressionam, nos instruem e nos deliciam. E viveu apenas 62 anos. Atraiu para todo jornal em que escrevia legiões de leitores, que o compravam, que o assinavam, por causa dele, Chesterton. Era fiel ao fato, nunca dissimulando a verdade – mesmo ao risco de perder o emprego. P. ex., abandonou o Daily News, após lá escrever durante 12 anos, depois que o jornal não se retratou adequadamente, diante de um escândalo financeiro de um Partido no Poder, que o jornal que apoiava …

 

O que importa escrever: Em 1905, quando o The Illustrated London News o contratou, lhe foi dito que podia escrever sobre qualquer coisa, exceto religião e política. Chesterton recusou: não valia a pena escrever sobre mais nada. Bem, lá escreveu durante 31 anos, com imenso sucesso, sobre… religião e política.

 

Chesterton – que frases! Existem pessoas que disseram frases engraçadas, ou picantes, ou espirituosas. Chesterton disse frases verdadeiras e, ainda assim, deliciosas. Ia dizer divertidas, mas eram deliciosas: não apenas nos alegravam, mas havia um sabor na alegria.

Vamos começar com uma das frases mais citadas de Chesterton:

“Angels fly because they take themselves lightly.”

Os anjos voam porque pegam leve com eles mesmos…

Até porque os anjos pesados, aqueles que se julgavam o máximo, êmulos de Deus, esses caíram… O orgulho pesa – e faz cair. Os anjos voam porque se fazem leves. Estranho? Nada; vejam esta:

“Take away the supernatural and what remains is the unnatural.”

“Tire o sobrenatural e o que resta é o antinatural”.

Ou seja, não conseguimos viver sem o sobrenatural. Sem Deus.

Chesterton uniu de forma extraordinária o espirituoso ao espiritual. Batizado como unitarista, Chesterton passou à Igreja Anglicana por influência de Frances Blogg, – sua única esposa, de 1901 até sua morte 35 anos depois.

Em 1922, Chesterton se converteu ao Catolicismo, seguido por sua esposa alguns anos depois. A expectativa da conversão dela foi a espera mais difícil de sua vida. Na verdade, Chesterton teria se convertido antes, não fosse o imenso amor pela esposa: queria que fizessem juntos essa jornada crucial.

 

Um caminho para Chesterton: Dale Ahlquist, o grande conhecedor da obra de G. K. Chesterton e seu maior divulgador, conta como foi fisgado por Chesterton. Primeiro, achou sua leitura muito agradável, de modo que, para sua lua de mel em Roma, em 1981, Dale levou The Everlasting Man (O Homem Eterno, na edição em português), duas coisas interessantes para um batista – lua de mel em Roma e ler Chesterton. Bem, sua esposa, Frances, levou Les Miserables de Victor Hugo… Em uma de suas sempre interessantes conferências, Dale Ahlquist lembra que foi durante essa sua estada em Roma que ocorreu o atentado contra o Papa João Paulo II. E brinca: “eles, os protestantes recém-casados, hospedados perto da Basílica de São Pedro, eram the obvious suspects”…

A obra de Dale Ahlquist é um excelente (e mais fácil) caminho introdutório para o pensamento Chesterton. Nestas Notas, passarei a usar principalmente – e abundantemente – 3 livros de Dale Ahlquist sobre Chesterton, os quais já li (e fui compelido a rever várias vezes):

– G. K. Chesterton: Apostle of Common Sense. Ignatius Press, San Francisco, 2003.
– Common Sense 101: Lessons from Chesterton. Ignatius Press, San Francisco, 2006
–  The Complete Thinker: The Marvelous Mind of G.K. Chesterton. Ignatius Press, San Francisco, 2012.