Notas & Comentários – 24-01-2025

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Os Churchill: Foi uma fonte de infelicidade para Winston o fato de ter visto tão pouco o pai, primeiro tão ocupado com os afazeres, depois tão abatido pelos infortúnios. Churchill se lembrou de cada palavra das poucas conversas pessoais que teve com o pai.
Os Churchill eram, no geral, pessoas medianas, sem uma distinção ou destaque especial. Mesmo o fundador da dinastia, John Churchill, primeiro Duque de Marlborough, poderia, na opinião do Rei Carlos II, ter permanecido um tranquilo senhor rural, se não tivesse sido estimulado a ir à luta pela sua espantosa e ambiciosa esposa, Sarah Jennings (o homem chamar a esposa de cara metade muitas vezes é um understatement: ela chega a ser pelo menos 75%, como no caso de Sarah). Dos seus sucessores, nenhum Marlborough alcançou distinção. E cinco dos primeiros sete duques foram vítimas de depressão patológica. Até Winston.

 

A mãe: Foi de sua mãe, Jennie Jerome (ainda que tampouco tivesse muito tempo para o filho) e não de seu pai, que Winston derivou suas principais características: energia, amor pela aventura, ambição, um intelecto sinuoso, sentimentos calorosos, coragem e resiliência, e uma enorme paixão pela vida.

Jennie era bela e rica. E milionários americanos costumavam casar- se com a nobreza britânica. A riqueza nobilitava os americanos…

Acima, o retrato de Jennie aos 26 anos, e a mansão de seu pai, na Madison Avenue, Nova Iorque. Jennie, vaidosa, adorava adentrar um ambiente e saber que todos admiravam sua beleza. Sem ligar para o fato de que a beleza pode dominar a razão e o discernimento, como admoestava Shakespeare:

“Beauty is a witch, against whose charms faith melteth into blood.”

“A beleza é uma feiticeira, diante de cujos encantos a fé se derrete em sangue.”

Jennie era muito americana: acreditava que o céu era o limite, que tudo era possível, que a tradição, os precedentes, a forma “certinha” de fazer as coisas, sempre poderiam ser ignorados quando a ambição exigisse. Ela adorava riscos elevados e não chorava — pelo menos por muito tempo — se não funcionassem.

 

O pai – Winston amava os pais com o amor ilimitado e irracional de criança e adolescente apaixonado. Mas eles o desapontaram continuamente, pela ausência, pela indiferença e pelas repreensões. Ele era um menino que não se saía bem na escola, salvo em história e inglês. Seu pai logo o considerou um fracasso acadêmico. Por isso, Lord Randolph decidiu não mandá-lo para Eton: não era inteligente o suficiente…

O pai de Churchill foi para a África do Sul na tentativa de fazer fortuna com ouro e diamantes. Obteve bons resultados. Mas quando morreu, em 1895, tudo teve de ser vendido para pagar suas dívidas. A essa altura estava claro que Winston teria que ganhar a vida sozinho. Mas, como Churchill mesmo reconheceu, mais tarde:

“Ganhamos a vida pelo que recebemos, mas fazemos a vida pelo que damos.”

“We make a living by what we get, but we make a life by what we give.”
Assim, Churchill teve de escrever muito para sobreviver, para alegria de seus leitores.

 

Combates: Churchill esteve em combates e próximo a combates muitas vezes em sua vida. Mas, ao contrário de George Washington, Churchill não achava que as balas e obuses tivessem “algo agradável no som”. Na verdade, ele aprendeu a se proteger: foi atacado cerca de cinquenta vezes ao longo de sua vida, e nunca foi atingido por uma bala.

“Nothing in life is so exhilarating as to be shot at without result.”

“Nada é mais excitante do que alguém dar um tiro em você, sem resultado”.
Andrew Roberts, em seu magistral livro Churchill: Walking with Destiny (Viking, 2018), lembra alguns perigos pelos quais Churchill passou:

– Nasceu de 7 meses, o que na Era Vitoriana equivalia quase a uma sentença de morte, pelo estado da medicina.
– Sofreu 3 acidentes graves de carro. P. ex., foi atropelado na 5ª Avenida em Nova Iorque, em 1931, por estar olhando para o lado errado (mão inglesa…).
– Durante a Guerra dos Bôeres (1899), foi capturado e fez uma fuga dramática e espetacular, que o tornou a maior celebridade do Reino Unido na época.
– Numa brincadeira com o irmão e um primo (e para se mostrar), pulou de uma ponte próxima ao Lago de Genebra (em 1893), enganando-se sobre a profundidade da água… só não morreu porque havia uma árvore caída à qual se apegou…
– Na 1ª Guerra Mundial foi para as trincheiras de janeiro a maio de 1916, expondo-se muito; andou entre a trincheira dele e a dos alemães, naquela área chamada de “no man’s land”, e chegou a ouvir a voz dos alemães falando na trincheira deles… A média de sobrevida ali era de 6 semanas…
– Sofreu dois acidentes de avião. Num deles, em 1919, sua aeronave se espatifou quando decolava no aeroporto de Croydon…

Por isso, Andrew Roberts pôs esse subtítulo do seu livro: Churchill: Walking with Destiny. Efetivamente, Churchill ia desafiando o perigo, caminhando com o destino, que teimava em protegê-lo.