Notas & Comentários – 21-02-2025

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Guerras: Churchill nunca foi um warmonger, um fomentador de guerra, como afirmavam seus inimigos. Pelo contrário: ele alertou contra os perigos de uma guerra com a mesma urgência com que alertou contra o despreparo inglês para enfrentá-la. Nele, o desejo de evitar a guerra e o alarme pelo despreparo para a guerra eram coisas indissociáveis; eram parte de seu amor pelo país e seu povo. Mas Churchill era suficientemente realista para compreender que as guerras viriam e que uma guerra vitoriosa, por mais terrível que fosse, é preferível a uma guerra perdida. E tinha suas ideias:

“Aqueles que conseguem vencer uma guerra bem, raramente conseguem fazer uma boa paz, e aqueles que conseguiriam fazer uma boa paz nunca teriam vencido a guerra.”

“Those who can win a war well can rarely make a good peace, and those who could make a good peace would never have won the war.”

A Grande Guerra, em muitos aspectos, revelou-se um desastre para Churchill, como Primeiro Lord do Almirantado, em especial por causa da Campanha dos Dardanellos. Mas, após a sua queda, Kitchener (Ministro da Guerra, 1914 – 1916), assegurou-lhe: “Há pelo menos uma coisa que eles nunca poderão tirar de você: quando a guerra começou, você tinha a frota pronta”.

 

Os discursos: Churchill sempre preparou seus discursos com cuidado, mas não palavra por palavra. Em 1904, porém, ele teve a horrível experiência de “secar” (“of drying up”) – se perder nas palavras – na Câmara dos Comuns. Depois disso, ele aprendeu tudo de cor, ensaiou e cronometrou tudo, e não deixou mais nada ao acaso.

Um grande amigo, Pedro Rogério, grande jornalista e consultor, mestre da palavra, me contou que o Presidente Sarney, então Presidente do Senado, ia entrando em Plenário para fazer um discurso num momento de crise aguda, provocada por seus inimigos. Pedro estava a seu lado e indagou: “Está com o texto do discurso?”, ao que o Senador respondeu, batendo com o dedo na cabeça: “Está tudo aqui”. Aconteceu igual a Churchill: teve uma síncope de memória… O texto escrito é a maior segurança do orador.

Os discursos de Churchill, impressos, normalmente carregam consigo toda a ressonância da sua voz; além disso, são também uma prosa magnífica.

 

Vícios e Virtudes: A citação a seguir reflete bem o estilo mordaz e o humor ácido característico de Churchill:

“He has all the virtues I dislike and none of the vices I admire.”

“Ele tem todas as virtudes de que não gosto e nenhum dos vícios que admiro.”

Nesta famosa citação, Churchill, provavelmente, se referia a Sir Stafford Cripps, um político britânico que serviu no governo, junto a Churchill, durante a Segunda Guerra Mundial.

Sir Stafford Cripps era conhecido por ser um homem austero, abstêmio, vegetariano e de hábitos muito regrados – virtudes que contrastavam fortemente com Churchill, que era conhecido por seu estilo esfuziante, flamboyant, e amar bebidas e charutos.

 

Churchill, Subsecretário das Colônias: Ele adorava esse trabalho, com telegramas, mensageiros do rei uniformizados, pastas e caixas de despacho de couro vermelho e visitantes importantes, negros, amarelos e brancos, do mundo todo. Churchill certamente era notável. Seu nome, vejam só, surgiu em uma conversa entre Rudyard Kipling, o Orfeu do império, e Cecil Rhodes, um dos maiores construtores do Império britânico.

Churchill fez uma visita oficial às colónias da África Oriental em 1907, viajando com o seu dedicado secretário “Eddie” Marsh, uma presença constante na sua vida oficial durante os vinte e cinco anos seguintes. Subindo da costa até o planalto de Uganda pela nova ferrovia, Churchill descreveu isso como “viajar pelo pé de feijão, subindo até o país das fadas”. Em Uganda e no Quênia ele fez um safári com Marsh e 350 carregadores. Na Índia, pegou javalis. Atirava em rinocerontes, zebras, gnus e gazelas, enviando seus troféus a Londres para serem empalhados e montados pelo grande taxidermista, Rowland Ward, de Piccadilly. Sempre cuidadoso, para evitar críticas sobre uso indevido de fundos públicos, a viagem foi paga pelo Strand Magazine e, em troca, Churchill escreveu artigos
que, estendidos à forma de livro, tornaram-se My African Journey. Como tantas de suas atividades, essa mistura do cargo com o jornalismo seria impossível hoje. Na verdade, mesmo na época, muitos observadores franziram sobrancelhas.

Certo. Mas Churchill afirmava:

“It is better to be making the news than taking it; to be an actor rather than a critic.”

“É melhor fazer notícia do que recebê-las; ser um ator em vez de um crítico.”

 

Mentiras, fatos e tato: Muitas vezes, mentiras são as verdades inconvenientes:

“There are a terrible lot of lies going about the world, and the worst of it is that half of them are true.”

“Há um monte de mentiras espalhadas pelo mundo, e o pior de tudo é que metade delas são verdadeiras.”

A síndrome da avestruz é perigosa:

“You must look at facts because they look at you.”

“Você deve olhar para os fatos porque eles olham para você.”

“Tact is the ability to tell someone to go to hell in such a way that they look forward to the trip.”

“Tato é a capacidade de dizer a alguém para ir para o inferno de tal forma que ele fique ansioso pela viagem.”

Brutal.