Caros,
As universidades alemãs do início do séc. XX eram as melhores do mundo, mas… o antissemitismo as deteriorou profundamente.
David Hilbert fez da Universidade de Göttingen a mais proeminente do mundo em Matemática. Chegaram, porém, os nazistas e expulsaram os judeus do corpo docente da Universidade em 1933. Entre os expulsos, Hermann Weyl, que assumira a cadeira de Hilbert quando este se aposentou em 1930. Como assim? Weyl não era judeu… Certo, mas sua esposa era judia. O totalitarismo é essa ideologia que não permite redenção, que não deixa margem à consciência: ela condena por coisas externas e fora do controle do homem.
Em 1934, Hilbert compareceu a um banquete em que se sentou ao lado do Ministro da Educação do III Reich. O Ministro indagou: “O Instituto de Matemática realmente sofreu tanto com a saída dos judeus?”. Hilbert respondeu: “Sofreu? Não existe mais”.
Ora, se existe uma coisa sem ideologia, sem raça, uma coisa inocente, inabalavelmente neutra, incapaz de maldade, é a Matemática. Um professor de Matemática não tem como pregar o ódio com a Matemática. Mas lá se foi Weyl, expulso porque sua esposa era judia.
Hilbert não podia saber o que viria em breve com o Nazismo. Em seu epitáfio em Göttingen lê-se: “Wir müssen wissen. Wir werden wissen” – “nós devemos saber; nós saberemos”. Trata-se de uma negação à máxima latina: “Ignoramus et ignorabimus” – “Não sabemos e não saberemos”. Bem, Hilbert estava errado. Sua frase foi de efeito, mas não tinha nenhum efeito ou base na realidade. Hilbert, com suas equações, nunca extrapolaria o nazismo até o Holocausto.
Curiosamente, foi um físico também alemão, Werner Heisenberg, que enunciou um princípio que deveria nos encher de humildade: O Princípio da Incerteza. Não que tudo seja incerto na vida: a morte é certa, p. ex. Mas no mundo quântico, proclamou Heisenberg, nunca podemos saber ao mesmo tempo a localização e a velocidade de uma partícula subatômica.
No nosso mundinho, talvez se possa extrapolar Heisenberg: não podemos saber ao mesmo tempo a posição de um homem e em que direção está se dirigindo. O homem pode estar numa posição de bem, mas se deslocando para outra de grande mal. A esperança é que, quando esteja numa posição ruim, se dirija com determinação e coragem para outra, do bem.
Um contexto – Niall Ferguson: Antes de voltarmos a considerar, logo adiante, o ambiente nas universidades alemãs dos anos 1920 e 30, então as melhores do mundo, vamos falar um pouco do próprio Ferguson, cujo famoso artigo – The Treason of the Intellectuals – foi motivo de quatro Notas nossas pouco tempo atrás. Aliás, sobre o artigo de Ferguson, vale muito a pena ver esta sua entrevista: https://www.youtube.com/watch?v=LpMQSVp7NTg.
Ferguson, filho de ateus escoceses, tinha uma visão ateísta do mundo, até tornar-se cristão recentemente. Hoje, é curador da recém-criada Universidade de Austin, Texas, bem como Milbank Family Senior Fellow na Hoover Institution, Stanford. Bem, Ferguson, o historiador, me chamou a atenção há já alguns anos, me levando a adquirir vários livros dele. Não que concorde com tudo que escreve, claro, mas o grande historiador estimula a reflexão.
Outro Contexto – a Mulher de Ferguson: Ferguson é casado, atualmente, com Ayaan Hirsi Ali (desde 2011). Ela nasceu na Somália (onde, sofreu mutilação genital aos 5 anos de idade), abandonou o Islamismo e exilou-se na Holanda, onde foi deputada, e hoje vive nos EUA; converteu-se ao cristianismo em 2023.
Hirsi Ali escreveu o roteiro do filme Submissão, que criticava o Islã. O diretor do filme, Theo Van Gogh, foi morto a tiros por um muçulmano em uma rua de Amsterdã em 2004. Havia uma ameaça de morte contra Hirsi Ali fincada no peito dele.
Um dos fatos que despertaram a atenção de Niall Ferguson para se aprofundar na questão das universidades americanas foi um convite para Hirsi Ali fazer uma palestra em Havard: o convite acabou sendo cancelado porque ela, preta e ex-muçulmana, foi considerada como ativista de ódio ao Islamismo. Como assim?, perguntou-se Ferguson: foi a pergunta que o levou a escrever The Treason of the Intellectuals.
Ignoramus et ignorabimus: David Hilbert fez da Universidade de Göttingen a mais proeminente do mundo em Matemática. Mas viveu para ver os nazistas expurgarem muitos dos mais destacados membros do corpo docente da Universidade em 1933. Os expulsos incluíam Hermann Weyl, que assumira a cadeira de Hilbert quando este se aposentou em 1930: Helen, a esposa de Weyl, era judia.
Em 1934, Hilbert compareceu a um banquete em que se sentou ao lado de Bernhard Rust, o novo Ministro da Educação do III Reich. Rust perguntou se “o Instituto de Matemática realmente sofrera tanto sem os judeus”. Hilbert respondeu: “Sofreu? Não existe mais”.
O epitáfio de Hilbert, em sua lápide em Göttingen, consiste nas famosas palavras que ele proferiu em seu discurso de aposentadoria em 1930: “Wir müssen wissen. Wir werden wissen”. – nós devemos saber; nós saberemos. Essas palavras foram ditas em resposta à máxima latina: “Ignoramus et ignorabimus” – “Não sabemos e não saberemos”.
Bem, Hilbert estava errado. Sua frase foi de efeito, mas não tinha nenhum efeito ou base na realidade.
A Máxima da prudência e da humildade: A máxima latina ignoramus et ignorabimus, que significa “não sabemos e não saberemos”, representa a ideia de que o conhecimento científico é limitado, que não podemos saber tudo de tudo. Foi popularizada por Emil Heinrich du Bois-Reymond, famoso fisiologista alemão, em seu discurso de 1872 sobre “Os Limites da Ciência”.
Muitos cientistas, na segunda metade do séc. XIX e no início do séc. XX tinham a presunção de saber tudo, de que poderiam saber tudo, o que, obviamente, é falso. Du Bois-Reymond estava certo: lidando com coisas muito palpáveis, como a fisiologia humana, admitia que não, não sabemos e não saberemos tudo.
Como não é raro acontecer com movimentos radicais, o otimismo exagerado com ciência e o método científico daria lugar, na segunda metade do séc. XX, a posições pessimistas, extremas e contrárias às anteriores, de que não havia nenhum método científico possível, e mesmo que qualquer método científico restringe o progresso da ciência, como defendia Paul Feyerabend.
Curiosamente, foi um físico também alemão, Werner Heisenberg, ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1932 (com apenas 31 anos de idade) pela “criação da Mecânica Quântica” que enunciou um princípio que deveria nos encher de humildade: O Princípio da Incerteza. Não que tudo seja incerto na vida: a morte é certa, p. ex. Mas no mundo quântico, proclamou Heisenberg, nunca podemos saber ao mesmo tempo a localização e a velocidade (ou quantidade de movimento) de uma partícula subatômica: a Incerteza dos Pares.
A Ciência na Alemanha – Heisenberg (1): Werner Heisenberg (1901-76) gostava de música clássica e era um pianista talentoso. Conheceu sua futura esposa, Elisabeth Schumacher (1914–1998), em um recital de música em 1937. Em menos de quatro meses casaram-se. Os gêmeos Maria e Wolfgang nasceram nove meses depois, em 1938.
Como, segundo o Princípio da Incerteza de Heisenberg, havia pares de coisas que não podiam ser conhecidos ao mesmo tempo (como a posição e a velocidade), o grande cientista Wolfgang Pauli parabenizou Heisenberg por sua “criação de pares” – um jogo de palavras sobre a incerteza de se conhecer o par posição e velocidade de partículas elementares. O casal teve mais cinco filhos; um deles, Jochen Heisenberg, tornou-se professor de física na Universidade de New Hampshire (é impressionante como as faculdades americanas tinham essa capacidade de atrair grandes nomes, que faziam a diferença).
Wolfgang Ernst Pauli (1900 – 58) foi um físico teórico austríaco e um dos pioneiros da Física Quântica. Em 1945, após ter sido indicado por Albert Einstein, Pauli recebeu o Prêmio Nobel de Física por sua “contribuição decisiva com a descoberta de uma nova lei da Natureza, o Princípio de Exclusão ou Princípio de Pauli”.
Einstein dizia quem deveria ganhar o Prêmio Nobel de Física…