Notas & Comentários – 24-05-24

Clique para continuar a leituraLer novamente a Apresentação desta Nota

Esse ajuntamento de gênios da Física nas Universidades alemãs (i): No final de 1930, logo após sua postulação do Neutrino e imediatamente após a imensa dupla tragédia de seu divórcio e o suicídio de sua mãe, Wolfgang Pauli passou por uma crise pessoal. Em janeiro de 1932 consultou o psiquiatra e psicanalista Carl Jung, que também morava perto de Zurique. Jung logo começou a interpretar os sonhos profundamente arquetípicos de Pauli. E Pauli tornou-se um colaborador de Jung. Não parece simples imaginar a colaboração de duas coisas tão díspares – a Física Quântica – que lida com o infinitamente pequeno, as partículas subatômicas, e a Psicanálise, que lida com o imensuravelmente grande, a mente imprevisível do homem.

Em 1933 Pauli publicou a segunda parte de seu livro sobre Física, Handbuch der Physik, que foi considerado o livro definitivo sobre o novo campo da Física Quântica. Robert Oppenheimer chamou-o de “a única introdução adulta à mecânica quântica”. Pauli era um gênio que Max Born considerava “só comparável ao próprio Einstein… talvez ainda maior”. Einstein declarou Pauli seu “herdeiro espiritual”.

 

Esse ajuntamento de gênios da Física nas Universidades alemãs (ii): A anexação da Áustria pela Alemanha em 1938 ( o Anschluss) fez de Pauli um cidadão alemão, e criou um problema para ele. Sim, os avós paternos de Pauli eram de proeminentes famílias judias de Praga; seu bisavô foi o editor judeu Wolf Pascheles. A mãe de Pauli, porém, Bertha Schütz, foi criada na religião católica romana de sua mãe; mas o pai dela, era o escritor judeu Friedrich Schütz. Pauli foi criado como católico romano.

Em 1940, Pauli mudou-se para os Estados Unidos, onde trabalhou como professor de física teórica no Instituto de Estudos Avançados, Princeton. Em 1945, por indicação de Einstein, ganhou o Prêmio Nobel de Física por sua ” descoberta de uma nova lei da Natureza, o Princípio de Exclusão ou Princípio de Pauli”. Em 1946, após a Guerra, naturalizou-se cidadão americano.

Em 1958, Pauli foi diagnosticado com câncer no pâncreas. Quando seu último assistente, Charles Enz, o visitou no Hospital Rotkreuz (Cruz Vermelha), em Zurique, Pauli perguntou-lhe: “Você viu o número do quarto?” Era 137. Ao longo de sua vida, Pauli esteve intrigado com uma certa constante fundamental adimensional, cujo valor era quase igual a 1/137. Pauli morreu naquele quarto, em Zurich, em 15.12.1958; tornara-se também cidadão suíço.

 

Sommerfeld – o grande Orientador (i): Arnold Johannes Wilhelm Sommerfeld (1868 – 1951) foi um físico teórico alemão pioneiro no desenvolvimento da Física Atômica e da Física Quântica. Foi professor e orientador de muitos estudantes da nova era da Física Teórica. Sommerfeld, vejam só, fora, por sua vez, aluno de matemática de David Hilbert.

Mas o que é incrível é que Sommerfeld foi o Orientador de doutorado e pós-doutorado de sete ganhadores do Prêmio Nobel e de pelo menos outros 30 físicos e químicos famosos. Apenas o físico britânico J. J. Thomson, o descobridor do Elétron (a primeira partícula subatômica descoberta), tem uma lista comparável de alunos de tão alto desempenho.

Para Max Born Sommerfeld tinha uma habilidade especial para a “descoberta e desenvolvimento de talentos”. Albert Einstein disse a Sommerfeld: “O que admiro especialmente em você é que você, por assim dizer, extraiu do solo um número tão grande de jovens talentos.” O estilo de Sommerfeld o aproximava de seus colegas e alunos, atraía a colaboração deles, aproveitando ideias e opiniões deles. Sommerfeld os recebia em sua casa e se reunia com eles em cafés antes e depois de seminários e colóquios. E até os recebia em uma cabana de esqui alpina que mantinha para esporte.

 

Sommerfeld – o grande orientador (ii): Quatro dos alunos de doutorado de Sommerfeld, Werner Heisenberg, Wolfgang Pauli, Peter Debye e Hans Bethe ganharam o Prêmio Nobel.

E três dos seus alunos de pós-doutorado, Linus Pauling, Isidor I. Rabi e Max von Laue, também ganharam o Prêmios Nobel.

Muitos outros alunos dele tornaram-se muito famosos.

Que enorme façanha. Essa era a pujança da universidade alemã que os nazistas minaram. A ideologia humana, além de sempre estúpida, pode se tornar assassina. Isidor Rabi teve sorte.

Isidor Isaac Rabi (1898 – 1988), nascido com o nome Israel e não como Isidor, vinha de uma tradicional família de judeus poloneses. Teve a sorte de ir para os Estados Unidos ainda criança, crescendo no Lower East Side de Nova York. Ganhou o Prêmio Nobel de Física em 1944 por sua descoberta da ressonância magnética nuclear.

Rabi e Linus Pauling tentaram estudar com Erwin Schrödinger em Zurich, aquele físico que postulou a Equação de Onda ou Equação de Schrödinger, a qual fornece a maneira de calcular a função de onda de um sistema e como ela muda dinamicamente no tempo. Só que Schrödinger estava de saída de Zurich. Decidiram, assim, fazer o pós-doutorado com Sommerfeld, na Alemanha.

 

Jacobinos e nazistas: Os nazistas talvez tenham pensado como os jacobinos da Revolução Francesa: “Não precisamos de cientistas”. Os jacobinos guilhotinaram Lavoisier, o pai da Química moderna, admirado membro da Royal Society, o gênio que levou a Química do qualitativo para o quantitativo, que descobriu a composição da água, que identificou e deu nome ao oxigênio e ao hidrogênio, que descobriu o papel do oxigênio na combustão, etc. E daí? Lavoisier era rico e casado com uma nobre, tinha um posto de arrecadador de impostos da Fazenda Real, trabalhava para o Rei, logo, um suspeito, e os suspeitos… eram guilhotinados. Lavoisier pediu um adiamento de sua execução para concluir certas experiências… Recusado. Bem, para ideologias radicais não há redenção: Antoine Laurent Lavoisier foi guilhotinado na fase do Grande Terror da Revolução francesa. Sua cabeça caiu em 8.5.1794. O grande matemático Lagrange disse dele: “Bastou um instante para sua cabeça cair; mas cem anos não bastarão para surgir outra semelhante”.

Os nazistas aprenderam a matar em massa com os jacobinos. Uns usaram a guilhotina, os outros, o fuzilamento, os maus tratos e as câmaras de gás. Os jacobinos guilhotinavam umas 60 pessoas por dia só em Paris, levadas em carroças; os nazistas levavam suas vítimas de trem e matavam aos milhares por dia. Os nazistas industrializaram o assassinato.