Caros,
Como já dissemos, o desafio da Catedral Florença não advinha apenas das dimensões colossais da cúpula em si, mas de toda logística associada.
Para elevar tijolos, mármore, cimento, e até a alimentação dos trabalhadores, as máquinas existentes eram inadequadas. As catedrais anteriores no mundo medieval utilizavam a Rota Magna, uma roda com um homem que, ao andar dentro dela, fazia subir o peso, atado a uma corda.
Por isso, em vez de um homem andar na Rota Magna, Bruneleschi criou uma máquina que usava bois ou cavalos, e uma roda dentada fazia a mudança de direção do movimento (de horizontal, com o cavalo, para vertical, com o objeto a ser içado). Foi assim que subiram mais de 4 milhões de tijolos com os quais a cúpula da Catedral de Florença foi construída…
Os trabalhadores faziam as refeições lá em cima, durante a construção da cúpula. Seria demasiado grande o tempo perdido se os operários tivessem que descer para almoçar e depois subir de novo…
Brunelleschi havia prestado bastante atenção a duas cúpulas em Roma: a do Panteão e a da Domus Aurea, a Casa Dourada do Imperador Nero. Estudou bem esses casos, inferiu hipóteses, tirou conclusões, assumiu uma segurança que o fez construir a cúpula da Catedral de Florença que continua lá, brindando nossa vista e suscitando nossa admiração até hoje.
As máquinas: As catedrais no mundo medieval utilizavam a Rota Magna (vide ilustração abaixo), uma roda com um homem que, ao andar dentro dela, fazia subir o peso, atado a uma corda. Porém, para elevar tijolos, mármore, cimento, alimentação dos trabalhadores, etc., as máquinas existentes eram inadequadas para suprir a imensidade da cúpula da Catedral de Florença.

Rota Magna

Brunelleschi e as lições de Roma: Nem seu companheiro de viagem, Donatello, sabia muito bem o que Brunelleschi buscava em Roma. Numa época em que nem o direito intelectual nem a patente existiam, Brunelleschi dissimulava suas pesquisas e suas descobertas. Anotava coisas com símbolos crípticos e algarismos arábicos, apesar de estes terem sido proibidos em Florença desde 1296.
Brunelleschi prestou bastante atenção a duas cúpulas em Roma: uma na Domus Aurea, a Casa Dourada do Imperador Nero, a outra no Panteão (sobre que já falamos em Notas anteriores).
A Domus Aurea era feita com concreto, uma invenção romana. Foi construída entre o Incêndio de Roma (64 a.D.) e a morte do imperador (68 a.D.). Como Nero, por suas maldades, se tornou um embaraço para seus sucessores, houve uma espécie de Damnatio memoriae, e em 40 anos já não existia mais quase nada da Domus Aurea. A cúpula, sob a qual ficava o Triclinium, a sala de jantar de aparato de Nero, era assentada sobre uma base octogonal (de especial atenção para Brunelleschi, pois a cúpula de Santa Maria del Fiore também era octogonal), e tinha um óculo para entrada de luz (a cúpula da Catedral será sobrepujada por uma lanterna). A Casa Dourada de Nero foi reaberta à visitação em 1999, após restauro.
A Domus Aurea e o Panteão tinham afinidades: cúpula e óculo.

O interesse de Brunelleschi pelo Panteão era muito grande, pois, 13 séculos após sua construção, ainda constituía a maior cúpula jamais erguida, com um diâmetro de 44,3m e igual altura. Ninguém sabia como aquela estrutura se mantinha, pois sua sustentação não era visível. Mas Brunelleschi achou que sabia…