Notas & Comentários – 16-04-2025

Clique para continuar a leituraLer novamente a Apresentação desta Nota

Silva Jardim – lições da vida: Terminamos as Notas da semana passada mencionando que Antonio da Silva Jardim morreu tragado pela cratera do Monte Vesúvio, aquele famoso vulcão perto de Nápoles. É uma morte que impressiona. E que faz pensar.

Impressiona também o que recebeu como recompensa de seus esforços pela causa da República. Silva Jardim dedicou sua vida à causa da República e dela nada recebeu, salvo ingratidão. Sendo talvez o maior propagandista da República, sequer participou de sua solene Proclamação. Era radical demais… e os republicanos queriam aparentar paz e tranquilidade. Ao contrário da Revolução Francesa que, no Terror, guilhotinava quem mostrasse moderação (modérantisme).

 

Morrer no Vesúvio: Vem à mente a tragédia de Plínio, o Velho, o grande naturalista romano que viu, de longe, quando o Vesúvio entrou em erupção no fatídico ano de 79 d.C. Com o seu espírito científico, Plínio resolveu estudar, de perto, o fenômeno da erupção.

Plínio, o Velho, Plínia, sua irmã, e o filho dela, Plínio, o Jovem (atento a uma lição do tio, talvez explicando a ação do Vesúvio), em Miseno, 79 d.C. Plínia foi a primeira que viu os sinais da erupção. Ao fundo, o Vesúvio. (Angelica Kauffmann , 1785. Museu da Univ. de Princenton).

Plinio, o Velho, o almirante da frota romana ancorada ali perto de Neapolis, em Misenum, embarcou em direção a Stabiae, Herculano e Pompeia (vide mapa abaixo). Ao embarcar, porém, recebeu um pedido de ajuda da esposa de um amigo, Rectina, e de outros amigos que não tinham como sair da área de perigo, a não ser por mar. Plínio, o Velho, mudou de ideia: em vez de uma expedição de exploração científica, empreendeu uma expedição de ajuda humanitária, para salvar pessoas desesperadas.

A curiosidade é uma arma do cientista. Mas, às vezes, mata.

Plínia, en passant: Faço um rápido parêntesis, un détour, para lembrar que as mulheres romanas não tinham nome. Normalmente, tinham apenas o nome da família. A irmã de Plínio se chamava Plínia. As mulheres da família de Júlio César chamavam-se Júlia. As da família do primeiro Imperador, Ótavio, chamavam-se Otávia.

No império romano, as mulheres estavam alguns níveis abaixo dos homens. No Coliseu, sentavam no lugar mais alto, mais distante da arena, junto aos escravos.

 

A morte de Plínio, o Velho: Plínio, o Velho (às vezes chamado de Plínio, o Antigo) morreu, pois, durante a erupção do Vesúvio em 79 d.C. Sua morte é particularmente bem documentada em duas cartas que seu sobrinho, Plínio, o Jovem, escreveu ao historiador Tácito.

De acordo com esse relato, Plínio, o Velho, estava estacionado no porto de Misenum, como comandante da frota romana, quando notou a erupção vulcânica.

Misenum estava a salvo do vulcão, enquanto Stabiae era alcançada pela fumaça.

Como dissemos acima, inicialmente, Plínio planejou estudar o fenômeno daquela extraordinária erupção, mas então recebeu uma mensagem desesperada da esposa de um amigo, na área próxima ao Vesúvio, pedindo ajuda para um resgate: e a única rota de fuga seria pelo mar. Mudou seus planos e com vários navios foi ajudar na evacuação das pessoas refugiadas na praia.

Conforme se aproximavam da zona de perigo, a queda de cinzas e pedra-pomes dificultava a navegação. Enquanto outros, no barco, recomendavam que recuasse, Plínio, altivo, citou Terêncio: “A fortuna favorece os bravos” (“Fortis fortuna adiuvat“) e ordenou que seu capitão continuasse em direção à costa. Eles desembarcaram em Estábia (Stabiae), onde o amigo de Plínio, Pomponiano, o estava esperando.

Impossibilitados de navegar de volta, devido a ventos contrários, foram forçados a passar a noite lá. Enquanto os edifícios tremiam devido aos terremotos, e gases tóxicos enchiam o ar, Plínio permaneceu calmo, até tentando descansar um pouco.

Plínio, um homem corpulento que sofria de um problema respiratório crônico, possivelmente asma, morreu asfixiado pelos gases tóxicos naquela noite e foi deixado para trás. Quando as pessoas retornaram ao lugar, três dias depois da dispersão dos gases, o corpo de Plínio foi encontrado, o rosto sereno, sem ferimentos externos aparentes.

Sua morte é particularmente comovente porque decorreu tanto de um ato de curiosidade científica quanto da generosidade de resgate humanitário.

Em um fragmento de biografia, atribuído a Suetônio, (mencionado em Daisy Dunn. The shadow of Vesuvius. A Life of Pliny. Liveright Publishing Corporation, 2019), diz-se que algumas pessoas pensaram que Plínio foi na verdade morto por um escravo, a pedido dele.. No mundo antigo às vezes as pessoas se davam a morte, porque a dor e a perspectiva da dor não mais terríveis do que a própria morte. E os pagãos romanos se achavam donos da vida. No mundo cristão isso não ocorria, pois ninguém é dono da própria vida para se dar a morte.