Caros,
(Estas serão as penúltimas Notas sobre a saga de Brunelleschi, e eu planejava falar sobre a solução dele para a cúpula nas últimas Notas. Tenho, porém, um amigo impaciente, Lúcio (aquele que não navega uma canoa, mas sabe conduzir uma frota), a cuja fiel amizade de décadas não posso negar nada, me compeliu a abrir a solução já…)
Que conjunto mais majestoso: o Batistério, com suas Portas do Paraíso, de Ghiberti; o Campanário erigido por Giotto, e a catedral com sua monumental cúpula concebida e realizada por Brunelleschi.
Vale notar que as igrejas italianas, ao contrário das catedrais francesas, tinham cúpula. Os dois modelos geraram monumentos belíssimos à glória de Deus. Mas foi a Itália que deu o passo seguinte. Enquanto a França permanecia no modelo da Idade Média, a Itália já estava na Renascença. Durante três séculos, Florença foi um manancial de grandes artistas com grandes obras.
A Itália, Florença, em particular, possuía a ideia de conjunto das coisas, entendia, de forma genial, aquela nova arte e aquele mundo novo que surgiam. Colombo e Vespúcio ilustram esse conceito.
O genovês Cristóvão Colombo descobriu a América, mas foi o florentino Américo Vespúcio quem entendeu que aquelas terras não eram parte do leste da Ásia, mas de um novo mundo. E foi a um Medici que, em 1504, Vespúcio enviou a famosíssima carta Novus Mundos: e o novo continente passou a ser chamado de América. Mas isso é outra história…
A Cúpula e a Lanterna: Brunelleschi construiu a cúpula da Catedral de Florença em duas camadas, uma interna e outra externa, sem andaime e sem apoio, com uma camada se apoiando na outra, com estrias verticais, visíveis por fora, e cintas horizontais, não visíveis, por dentro. Vide o livro de Ross King, Brunelleschi’s Dome: How a Renaissance Genius Reinvented Architecture. Bloomsbury, 2013. E estes vídeos ilustram melhor que palavras: https://www.youtube.com/watch?v=TQ8F_yPwqzA&t=94s ; https://www.youtube.com/watch?v=QD3fJphus-o&t=435s
Brunelleschi construiu a cúpula com uma inclinação, digamos, mais íngreme do que constava em seu projeto inicial, por uma razão simples: queria coroá-la com uma Lanterna. De qualquer maneira, a Opera del Duomo só permitiu que ele construísse a Lanterna após vencer um novo concurso contra dois competidores, Lorenzo Ghiberti (sempre…) e Antonio Ciaccheri.
Seu projeto (que pode ser visto no Museo dell’Opera del Duomo) era para uma lanterna octogonal com oito contrafortes radiantes e oito janelas altas arqueadas (ilustração ao lado). A construção da lanterna foi iniciada poucos meses antes da morte de Brunelleschi, em 1446. Depois, durante 15 anos, a obra andou devagar. A Lanterna só foi concluída por Micchelozzo (amigo de Brunelleschi), em 1461.
Finalmente, a Lanterna foi coroada por Verrocchio, em 1469, com uma bola de cobre dourado, encimada por uma cruz contendo relíquias sagradas. Isso elevou a altura total da cúpula e da lanterna para 114,5m. Essa bola de cobre foi atingida por um raio em 17 de julho de 1600 e caiu, sendo substituída por outra, dois anos depois.
A Fachada: A Catedral de Santa Maria del Fiore só foi revestida de mármore no século XIX (Florença foi capital do Reino da Itália entre 1860 e 1870), mais de 500 anos depois de iniciada sua construção. Antes, sua fachada se assemelhava à da Basílica de São Lourenço (à direita, abaixo), que era a igreja dos Medici, e onde está a Sagrestia Nuova de Michelangelo…
A majestade do conjunto: O Batistério, com suas Portas do Paraíso, de Ghiberti, o Campanário, erigido por Giotto, e a catedral com sua monumental cúpula, concebida e realizada por Brunelleschi, formam um sublime conjunto arquitetônico (ver abaixo).
Vale notar que as igrejas italianas, ao contrário das catedrais francesas, tinham cúpula. Os dois modelos geraram monumentos belíssimos à glória de Deus, mas foi a Itália que deu o passo seguinte. Enquanto a França permanecia no modelo da Idade Média, a Itália já estava na Renascença.
Durante três séculos, Florença foi um manancial de grandes artistas com grandes obras.
Primeiro, no Trecento, Giotto mudou a história da arte: em suas pinturas estavam pessoas e não apenas modelos idealizados de pessoas, ou ícones.
Em particular, naquele Quattrocento se criava continuamente o belo – na pintura, na escultura e na arquitetura, inclusive na composição de conjunto arquitetônico. Naquele Quattrocento a beleza explodia nas obras de Fra Angelico, de Piero della Francesca, de Sandro Boticelli, de Masaccio, de Donatello, de Andrea del Verrocchio (plantador de gênios, que teve a honra de ser mestre de Leonardo da Vinci, Botticelli, Perugino e Ghirlandaio!), de Antonio Pollaiuolo, de Leon Battista Alberti, de Filippo Lippi, de Filippino Lippi, de Domenico Ghirlandaio (Mestre de Michelangelo)…
A Itália, e Florença, em particular, possuía a ideia de conjunto das coisas, entendia, de forma genial, aquele mundo novo que surgia.
O genovês Colombo descobriu a América, mas foi o florentino Américo Vespúcio que entendeu que aquelas terras não eram parte do leste da Ásia, mas um novo mundo. Vespúcio enviou a famosíssima carta Novus Mundos a um Medici em 1504. E o novo Continente se chamou América. Mas isso é outra história…